segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Crédito: aliado ou inimigo do consumidor

Hoje, o consumidor entra numa loja de departamento e pode sair com dinheiro na mão. Facilidade ou armadilha?

Os consumidores brasileiros estão acostumados com linhas de crédito vigorosas, prazos cada vez mais longos na hora das compras e facilidade de obter financiamento até na loja de magazine. Mas, será que eles entendem até que ponto a facilidade de crédito traz benefícios? Geralmente, não. O resultado disto pode ser comprovado pela alta inadimplência, reflexo do consumo inconsciente. Essa realidade não é apenas prejudicial para quem compra, mas também para todas as instituições envolvidas neste processo. Até o crescimento econômico do País acaba sendo comprometido.

Embora longe do estouro de uma "bolha" de crédito como aconteceu nos Estados Unidos com o subprime - as operações de financiamento no País chegam perto de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional -, as facilidades e seduções do crédito podem causar estragos.

"A economia norte-americana foi apoiada no amplo crescimento da oferta de crédito desde 1950. O crédito é uma experiência ainda muito recente no Brasil. Os bancos por aqui não emprestavam dinheiro por conta da inflação alta", compara o economista Alex Araújo, superintendente da Federação do Comércio do Ceará (Fecomércio). De acordo com Araújo, o País vive uma fase de expansão do crédito, principalmente o bancário. "Até as lojas que financiam clientes têm origem no próprio financiamento bancário", explica. Ele cita dados do Banco Central (BC), dando conta de que, em maio último, o volume de crédito contratado no Brasil atingiu R$ 1,260 trilhão. "Este valor é inflacionado por que dentro estão os repasses dos bancos oficiais", lembra. Mas, a carteira de crédito à pessoa física, ressalta ele, apresenta crescimento de 20% se comparada a 2008.Araújo destaca que o volume de crédito no País cresceu 40% em 2008.

Este ano, a projeção é de que fique em 20%. "O endividamento aqui tem crescido mas não é problema. O bom uso do crédito, sim, ainda é um desafio ao consumidor". Muitas empresas já perceberam essa dinâmica e, por isso, adotaram iniciativas para orientar seus clientes quanto ao consumo de crédito e a cultura do planejamento. Para o especialista internacional em relações de consumo e publisher da Consumidor Moderno, Roberto Meir, a consciência educacional para o uso do crédito deve ser amplamente discutida.

Álvaro Musa, sócio-diretor da Partner Conhecimento, também descarta uma possível "bolha" no crédito no País. "O Brasil deve continuar com o crescimento vertiginoso que vem apresentando nos últimos anos", disse. Hoje, o volume de dinheiro (depósitos em bancos, bolsa de valores e etc) em circulação no mundo chega a US$ 130 trilhões. "Para evitar crises como a do subprime esse dinheiro deve circular de forma saudável, com educação financeira".

Freitas Cordeiro, presidente da CDL, concorda que o Brasil não corre risco de explosão da inadimplência por conta do crescimento do crédito. "O comércio hoje trabalha com financeiras e de fato o crédito à pessoa física ainda não está na sua plenitude. Ele aumentou 3,5% e tudo indica que vai chegar ao fim do ano tenha recuperado 5%", comenta.

Aos que esperam índices mais animadores no que diz respeito à oferta de crédito, o ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria Tendências, Maílson da Nóbrega, faz um alerta: "O Brasil ainda está engatinhando neste setor e ainda há muito por fazer". Para ele, quando se fala em crédito e perspectivas na economia brasileira, toda cautela é necessária. "Existem temores de ocorrer uma aceleração inflacionária, decorrente do crescimento da demanda interna, aquecida pelo aumento da renda e do crédito", diz.

Por: SAMIRA DE CASTRO

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