quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Crédito facilitado pode ser armadilha

Facilidades de acesso ao crédito estão de volta. Após o período de crise de confiança, bancos e financeiras já estão soltando dinheiro na praça, com prazos estendidos e juros altos. Especialistas pedem cautela no momento de tomar o crédito

A facilidade de acesso ao crédito pessoal está voltando aos níveis pré-crise. O mercado financeiro mostra otimismo e antecipa que o ano de 2010 será historicamente o melhor em níveis de movimentação e ganhos. Bancos e financeiras embarcam nessa onda e já começam a soltar dinheiro na praça. Alguns garantem que liberam o crédito em apenas 18 segundos.

É o caso do Consórcio Embracon. Segundo o assessor de acionistas da empresa, Roberto Barbieri, o cadastro para liberação de crédito pode ser aprovado em curtíssimo espaço de tempo. “75% dos casos são aceitos de forma direta, sem avaliações muito profundas. Isto acontece porque quando o contrato é firmado, analisamos antecipadamente mais de 150 itens do consorciado”, explicou.

Conhecido como “Projeto Águia”, o modelo foi criado em 2004 e, de lá para cá, segundo Barbieri, atraiu 1,5 mil clientes por mês, com um total de 70 milhões de novos contratos. “Cerca de 40% são clientes do Nordeste e o Ceará é líder absoluto na Região. No País, o Estado fica atrás apenas de São Paulo”, destacou e informou que, em 2008, o número de clientes cresceu 68% e que já foi investido no programa cerca de R$ 1 milhão.

Segundo Barbieri, a filosofia do Consórcio é de facilitar a vida de quem precisa de crédito. “Confiamos em nossos clientes e eles confiam em nós. Temos um percentual de apenas 2% de inadimplência”, garante. O dado mostra que o setor de empréstimos está de fato reaquecido, mas analistas pedem cautela.

Mais atenção
Para o economista e professor acadêmico, Henrique Marinho, o sistema de crédito no momento é uma verdadeira roleta russa. “O consumidor precisa ter muita atenção na hora de pegar dinheiro emprestado, principalmente no que diz respeito à taxa de juros”, avaliou.

Marinho acredita que o momento é mesmo da volta ao crédito, mas considera precipitado o excesso de otimismo. “Se fizermos uma analogia com um automóvel, hoje estamos engatando a primeira marcha. Ainda é preciso mais estabilidade para avançar à segunda marcha”, classificou.

O operador e analista de negócios da BM&F Bovespa, Luiz de Paula, atribui o otimismo ao bom momento que o mercado financeiro brasileiro atravessa. “Somos o quarto mercado mundial em volume de negócios. Temos respeitado lá fora e isso reflete internamente”, disse. No entanto, ele observa que o mercado deve ficar mais seletivo daqui para frente. “Isso é bom. Demonstra que estamos prevenidos quanto ao calote”, avisa e garante que a oferta crescente de crédito é uma realidade que só tende a aumentar.

Os bancos oficiais parecem que não sofreram revés no momento de crise. Segundo a gerência regional da Caixa Econômica Federal, mesmo durante a pior fase de quebra de confiança dos mercados, o volume de empréstimos se manteve estável e a tendência é de que a procura e liberação de financiamentos cresça ainda mais no segundo semestre deste ano e em 2010. A informação é da gerente de negócios Maria Leuci Walraven.

Mais uma vez o economista Henrique Marinho pede calma. “A tecnologia de hoje permite que o crédito esteja cada vez mais fácil. Nos terminais eletrônicos podem-se fazer empréstimos e é exatamente por isso que o cliente deve ter muito cuidado e ficar atento às taxas de juros e aos prazos. É preciso fazer uma boa pesquisa sobre as taxas utilizadas nos diferentes bancos”, recomendou Marinho.

Por: Carlos Henrique Coelho da Redação Jornal O Povo

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