quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Crescer ou permanecer pequeno?

Umas das grandes dúvidas que pairam sobre a cabeça do empreendedor é em relação a hora de expandir o negócio. Devo crescer ou ficar pequeno? A maioria dos empresários, quando questionados, chega a se manifestar a favor do crescimento, afinal, isso significa a materialização do sucesso empresarial, além da possibilidade de ver o lucro crescer.

Mas a realidade é que não se pode pensar em crescer por crescer. Um crescimento mal planejado pode resultar em uma empresa ineficiente, com manutenção cara. O ideal é que o empresário tenha em mente uma estratégia bem clara, depois de avaliar algumas variáveis que podem indicar se é chegado ou não o momento de expandir este negócio.

Uma dessas variáveis que devem ser levadas em consideração é a carga tributária. Até pouco tempo atrás ampliar uma empresa significava para o empreendedor aumentar a carga tributária em cima do negócio, sem, exatamente, proporcionar aumento de lucro. “Ainda existia um mito de que a sonegação fiscal associada à informalidade era mais protegida na empresa pequena. Mas o rigor da fiscalização de hoje já não permite mais a sonegação de impostos seja qual for o porte da empresa”, destaca Reinaldo Messias, consultor do Sebrae-SP.
Uma dica é fazer do contador um assessor contábil para ajustar a receita da empresa à carga tributária adequada.

Outro ponto que merece atenção especial do empresário para decidir se deve ou não aumentar o negócio é analisar o mercado onde está inserido. Principalmente se ele está localizado em uma cidade pequena, com baixo potencial de consumo, se existem concorrentes próximos. Às vezes o local não comporta um aumento no consumo de determinado produto ou serviço e, neste caso, não adianta ampliar loja ou aumentar a produção. Uma dica dos consultores para fazer esta análise é conversar com os fornecedores e grandes compradores de produtos similares aos que são comercializados pela sua empresa. A ideia é tentar descobrir tendências de consumo do que você está oferecendo para adaptar à sua produção. “Com a virtualização dos negócios, o ciclo de vida de alguns produtos tem ficado cada vez mais curto. Isso exige investimento em tecnologia, modernização dos processos, aprimoramento de produtos e serviços. Isso já pode trazer um crescimento de vendas, sem necessariamente ampliar a empresa”, acrescenta Messias.

O investimento no negócio também precisa ser observado no momento da expansão. O empresário deve se perguntar: ‘Quanto eu tenho capacidade de investir frente à lucratividade que posso obter?’ De acordo com o consultor, existe uma matemática básica que precisa ser respeitada: é de praxe que os investimentos feitos no negócio retornem em no máximo 18 meses para que a expansão seja interessante para a empresa. É preciso se perguntar se a saúde financeira da empresa aguenta esperar este período e também analisar as formas existentes de investir: melhoria nas condições do negócio (reforma); aquisição de novos bens (outra loja, mais vitrines, novos maquinários) ou aprimoramento tecnológico da produção (novos produtos e serviços).

Uma questão que o empreendedor também precisa considerar quando decide crescer é a profissionalização da empresa. Ele precisa analisar tendências e cenários futuros, pensar na informatização do negócio, nas questões de responsabilidade social, entre outras práticas empresariais comuns ao dia a dia dos negócios. “Ele precisa estar preparado para delegar funções e soltar um pouco as rédeas sem perder o controle da empresa. A profissionalização também requer contratação de pessoas especializadas e, em algumas situações, estes novos funcionários podem ser mais preparados que o dono da empresa”, comenta Messias. Para enfrentar este novo momento é importante que o empresário esteja aberto a realizar cursos e participar de associações de classe e entidades onde possa trocar experiências sobre o mercado e tipo de negócio que tem.

Além da carga tributária, análise de mercado, investimento e profissionalização da empresa, outra variável a ser pensada pelo empreendedor é a formação de rede, ou seja, estabelecer contatos e parcerias que possam ajudar a dar mais visibilidade ao negócio, sem precisar necessariamente ampliar a estrutura física, fazer investimentos em bens ou adquirir novas lojas. Fidelizar o cliente ou estabelecer parcerias para atingir novos mercados, por exemplo, podem resultar em aumento de vendas e faturamento. Para isso, o empreendedor precisa conhecer bem o mercado em que atua e identificar o perfil do seu cliente e seus hábitos de consumo, para adequar seus produtos e serviços. “Este tipo de informação pode ser acessada por meio de um cadastro inteligente e em contatos com o cliente por meio de um site, blog ou rede social, por exemplo”, ressalta o consultor.

Todo empresário tem o direito de fazer crescer seu empreendimento, como também de manter sua empresa pequena, desde que ela seja lucrativa. É importante lembrar que, independente do porte da empresa, ela precisa ser moderna e competitiva, acompanhando as tendências de negócios para não perder espaço no mercado.

Bellas Escolhas
Bellas, assim mesmo, com a letra L duplicada, e, com o perdão do trocadilho, homens de negócios que levam esta palavra no nome de seus empreendimentos realmente fizeram belas escolhas. Conheça duas histórias diferentes, de quem optou por crescer e de quem preferiu manter a empresa de pequeno porte.

Os irmãos Covizzi, por exemplo, traziam no sangue o espírito empreendedor e, na cultura, o gosto pela boa culinária. Assim nasceu a primeira Bella Capri, pizzaria fundada em 1998 na cidade de Mirassol, interior de São Paulo. O modelo de negócio chamou a atenção de outros empreendedores e a família resolveu ampliar, oferecendo estrutura para franquias. Hoje, dez pizzarias levam a marca. “Meu irmão vendeu a casa para começar o negócio. Ele é apaixonado por culinária italiana e planejou o empreendimento conforme a necessidade da região. Eu entrei cinco anos depois, somando a visão de mercado e experiência em administração. Nesta época, já tínhamos duas filiais e visitamos a feira da Associação Brasileira de Franchising. Foi a inspiração para formatarmos o negócio e lançá-lo no sistema de franquias. Hoje, nas dez pizzarias empregamos aproximadamente 250 pessoas, entre profissionais diretos e prestadores de serviços”, Conta Mário Augusto Covizzi.

No caso de James Torigoe, proprietário da Bella Cafeteria, a opção foi manter o empreendimento pequeno. Com produtos como café de grãos diferenciados,
assados exclusivos, frozen e outros, o charmoso espaço leva ao centro de São Paulo produtos que são encontrados em shopping centers e bairros nobres, por isso, chamou a atenção de empresários do interior e de fora da cidade, que propuseram a ampliação. Torigoe, no entanto, acha que ainda é cedo para crescer, que seu negócio dá tão certo porque se adaptou ao público da região e seus preços são acessíveis. “Abri a cafeteria há nove meses. Tem sido uma experiência ótima, pois consegui adaptar produtos diferenciados para o público que circula no centro da cidade. Apesar das oportunidades que surgiram de ampliação, estou estudando o mercado, quero manter meu negócio pequeno no momento.
Crescer com responsabilidade e planejamento me interessa, mas por enquanto esse formato me proporciona os resultados que idealizei”, comemora.

Assim como apontou o consultor do Sebrae-SP, o professor de estratégia da Fundação Dom Cabral, Luis Lobão, reforça que ambas as opções são válidas e que os empresários não podem temer crescer, comportamento que ele apelida de “Síndrome de Peter Pan”. Analisando os dois casos, Lobão reforça que crescer é normal, é o esperado, mas não é vantagem quando não se tem habilidade do mercado ou há ausência de apoio financeiro. “Se o empreendedor é mergulhador ou colecionador, por exemplo, seu negócio está relacionado ao hobby, nem sempre crescer significa conforto, o importante quando uma oportunidade de crescimento se aproxima é tentar ‘prever o futuro’, ou seja, planejar”, completa.

Jornal de Negócios - SEBRAE/SP