domingo, 31 de maio de 2009
Criatividade. Xô, Crise!
Em tempos de crise, empresários precisam ser como exímios cirurgiões plásticos. Cabe a eles cortar gorduras, esticar prazos com fornecedores e reduzir custos para manter a companhia saudável. A diferença, porém, é que não há um manual a seguir. As soluções dependem de criatividade e bom senso. Diz o consultor Rodolfo Spielmann, da Bain & Company: “Fazer escolhas certas neste momento é crucial para tirar vantagem da crise e sair mais forte”. É o caso das oito empresas retratadas nesta reportagem. Todas encontraram um jeito criativo de tornar seus processos mais eficientes, seja explorando novos nichos, seja substituindo matérias-primas tarifadas em dólar. Em nenhum dos casos houve fábricas paradas ou operações no vermelho. Pelo contrário. Essas empresas encontraram uma maneira de funcionar ainda melhor. Prova de que o estica e puxa das cirurgias corporativas, embora exaustivo, vale a pena.
Kimberly-Clark
João Damato, presidente da Kimberly-Clark Brasil, comandava uma reunião com os diretores da empresa, em outubro do ano passado, quando as luzes se apagaram. Na sala escura, apesar dos murmúrios e da agitação, Damato continuou sua apresentação como se nada tivesse acontecido. A queda de energia foi um efeito proposital, programado por ele. Depois de algum tempo falando no escuro, o presidente concluiu: “Ninguém sabe para onde a crise vai. Teremos de trabalhar no escuro por um tempo. Mas é possível. Assim como esta palestra não vai terminar por falta de luz, também não vamos deixar que a crise nos impeça de crescer”.
O desconcerto com a repentina escuridão foi apenas uma fração do temor experimentado meses antes por Damato, quando percebeu que o dólar começava a subir e isso teria fortes consequências na empresa, por dois motivos. Primeiro: por ser uma multinacional, o balanço é transformado em dólar. Mesmo com vendas crescendo a dois dígitos, os resultados na moeda americana seriam negativos. O segundo temor estava relacionado aos insumos importados, responsáveis por até 40% do custo final dos produtos da Kimberly-Clark, dona de marcas como a das fraldas Turma da Mônica, do papel higiênico Neve e dos absorventes Intimus Gel. Os primeiros sinais de alta do dólar e queda no preço do petróleo foram interpretados por Damato como um alerta para renegociar todos os contratos. E foi o que fez. Era agosto, a economia ainda estava (ou parecia estar) sob controle e por isso ninguém levou muito a sério quando ele bateu na porta de fornecedores da Ásia, Europa e dos Estados Unidos dizendo que estava em situação de perigo. Muitos não quiseram negociar no primeiro momento. Nem no segundo. Ou no terceiro. Foram necessárias até cinco reuniões, centenas de e-mails e muitas idas e vindas para fazê-los repensar os contratos. Mas Damato conseguiu. “Não negociei usando psicologia, mas números”, diz.“Tinha de mostrar que aquele cenário era impensável. Fizemos os parceiros compreenderem que manter os preços no mesmo patamar era inviável, porque teríamos de repassá-los ao consumidor.”
Outra estratégia adotada por Damato para lidar com a crise dentro da Kimberly-Clark foi falar abertamente e sensibilizar os funcionários para cortar custos. E-mails seus chegam às caixas postais, informando sobre a importância de cada um na redução das despesas. Damato diminuiu suas viagens de oito para uma a cada dois meses e hoje não pode ver uma sala vazia com as luzes acesas. O resultado foi um corte de 5% nos custos. Apesar de boa parte da produção estar ancorada no dólar, que teve alta de 35% desde agosto, a empresa não aumentou o preço dos produtos. As metas de crescimento para este ano continuam as mesmas. “A crise é uma dificuldade momentânea. Perdi muitas noites de sono buscando soluções, mas agora me sinto recompensado”, afirma. Certamente Damato e seus 5 mil colaboradores não estão mais no escuro. Pelo menos enquanto houver alguém na sala.
Banco Cruzeiro do Sul
Quando o Bear Sterns quebrou, em maio de 2008, Luis Octavio Indio da Costa, presidente do Banco Cruzeiro do Sul, especializado em crédito consignado e empréstimos de curto prazo para empresas, entendeu que a crise era grave. Comandou, então, uma reforma. Dos 700 funcionários, 130 foram cortados e a carteira de créditos foi reduzida à metade. Os analistas suspeitaram de problemas, mas entenderam que eram medidas preventivas. “Foi duro. Mas tive a felicidade de acreditar na crise antes dela se revelar por inteiro”, diz Costa.
Visa
Empresa global, publicidade idem. Desde a estreia na Bolsa de Valores de Nova York, em março de 2008, a Visa tem se posicionado como uma só companhia – e não mais uma série de divisões regionais. Nesse espírito, e diante do agravamento da crise, confiou à agência TBWA a criação de uma campanha publicitária única para o mundo todo. O modelo favorece a racionalização das verbas de marketing. “Há um bom ganho de eficiência, especialmente na negociação de mídia”, afirma Luís Cássio de Oliveira, diretor-executivo da Visa no Brasil. Além da tradução para cada país, os filmes sofreram pequenas adaptações locais. A logomarca Go, laranja no resto do mundo, foi pintada de azul no Brasil, para evitar a associação com a companhia aérea Gol. “Também tivemos uma grande sorte.
No dia definido pela matriz para o lançamento da campanha, havia um clássico de futebol em que justo o time de Ronaldo estava sem patrocinador”, diz Oliveira. A Visa patrocinou esse jogo do Corinthians, no início de março. O mote dos filmes publicitários (“Mais pessoas vão com Visa”) também está relacionado ao momento econômico atual – ainda que não o mencione diretamente. O diretor-geral da Visa no Brasil, Rubén Osta, afirma que o objetivo não é estimular as pessoas a gastarem mais e, sim, mostrar a elas que os cartões de crédito podem ser uma ferramenta de planejamento financeiro. “Temos como objetivo fazer com que as pessoas migrem os pagamentos realizados hoje com dinheiro para os meios eletrônicos, que são mais práticos, rápidos e seguros.”
Duloren
Quando se deu conta de que o custo de produção de suas mercadorias aumentaria pelo menos 20% em função da alta do dólar, Roni Argalji, presidente da fabricante de lingeries Duloren, tomou uma atitude drástica: saiu para pescar. Não seria essa a primeira ação que a maioria dos empresários tomaria. Ele sim. “Dormir com a ideia, distrair a cabeça e decidir depois é uma estratégia que dá certo para mim. Quando você está na operação do negócio num momento de crise, não pode ser precipitado. Qual o problema de decidir no dia seguinte?”, diz Argalji, 55 anos, cujo hobby, a pescaria, pratica desde a adolescência.
Pois a cabeça fria mostrou que as respostas não seriam dadas por ele, mas por seus colaboradores e clientes. “Em um cenário de crise, você começa a prestar mais atenção nos detalhes, para saber o que está em excesso. E ninguém entende melhor de detalhes do que as pessoas que estão na linha de produção e na frente do cliente. É preciso ouvi-las”, diz. Não é nada diferente do que Argalji já costumava fazer. Uma vez por mês, ele se junta a um grupo de funcionárias para discutir o que está dando certo e o que pode melhorar na fábrica e faz visitas periódicas às lojas revendedoras. Depois da crise, ele passou a visitá-las com mais frequência. E foi numa dessas conversas que veio uma ideia para o corte de custos. Na frente de um balcão, Argalji percebeu que as lingeries estavam expostas dentro de um cesto – e não em caixas individuais, como elas eram enviadas aos lojistas. Curioso para saber por que isso ocorria, ouviu como resposta: “As caixas ocupam muito espaço. Nem as clientes as querem”. Só que elas custavam R$ 1,2 milhão à empresa ao longo de um ano. As caixinhas individuais foram, então, substituídas por embalagens maiores, com 12 unidades cada. Até dezembro, a empresa gastará menos de um décimo do que teria dispendido em uma fase sem turbulência.
Ao reunir o grupo de funcionárias com quem tem discussões mensais, Argalji foi lembrado de que uma parte da fábrica estava com máquinas paradas. Há alguns anos, com a queda do dólar, a importação de produtos, como rendas e bordados, era mais vantajosa financeiramente. Essas máquinas voltaram à ativa em novembro, quando foram contratadas 50 pessoas para produzir localmente aquilo que vinha de fora e os US$ 2 milhões gastos com importação se transformarão, neste ano, em apenas US$ 60 mil. De sua linha de produção deixarão de sair modelos sofisticados de lingeries e serão feitas coleções mais básicas e menos incrementadas. “As mulheres não vão deixar de comprar suas roupas de rotina, não importa quão grave seja a crise”, diz Argalji. Como resultado das mudanças, o preço das lingeries continua o mesmo e a previsão de produzir 11 milhões de peças neste ano também se manteve. O mar, pelo visto, seguirá bom, para Argalji continuar sua pescaria.
Por Camila Hessel e Marcos Todeschini (Época Negócios)
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Saiba como preparar a sucessão em uma empresa familiar
O dono de uma corretora de seguros fez tudo certinho e com calma. Há seis anos, começou a pensar na sucessão da empresa. O projeto dele é passar o comando do negócio para os filhos.
“Pensar na sucessão é trabalhar na continuidade de seu projeto de vida, seu projeto profissional. Quanto mais cedo você pensa, mais qualidade você aporta no processo”, acredita o empresário Eduardo de Souza.
Para o consultor de empresas familiares Pedro Adachi, o melhor caminho é mesmo pensar no assunto enquanto se trabalha na empresa.
“A gente tem sempre que lembrar que a sucessão é a transmissão do comando da empresa. Tem que dissociar isso da morte, a gente tem que planejar quem vai ser a próxima pessoa que vai estar conduzindo os negócios”, observa Pedro.
Definir a sucessão de uma empresa não é algo simples, nem rápido. Em geral é preciso se preparar durante anos. Foi o que fizeram os filhos do fundador. Primeiro eles foram trabalhar fora, em outras empresas, para trazer conhecimento novo para cá.
A filha Camila Souza arrumou emprego numa seguradora. Ela só pretende trabalhar na empresa do pai daqui a cinco anos.
“Eu fui trabalhar em seguradoras ou corretoras de grande porte para ver a forma técnica de trabalho mesmo, para trazer conhecimento para cá”, explica Camila.
O filho Jorge Souza Filho estudou no exterior e trabalhou em outras empresas no Brasil. Em 2008, assumiu a área de planejamento da corretora.
“Tudo que eu aprendi lá eu trouxe para cá, que é estudo de mercado, estudo financeiro das ações da companhia, das ações de marketing, de vendas. Tudo que poderia agregar para a gente neste tipo de área”, admite Jorge. A família ainda enfrentou o desafio de separar o lado pessoal do
profissional. No início, eles misturavam os papeis.
“Eu entrava na sala do meu pai, parecia que estava entrando na sala de casa. Eu via um olhar estranho, achava rejeição. Eu pensava: ‘meu pai não gosta do que eu faço’. Ficava triste, ficava de bico em casa, era um comportamento mais ou menos assim: confundia muito”, explica Juliana Souza, que também é filha do empresário.
Com tempo e muito treinamento, fundador e sucessores venceram as dificuldades. Hoje, o que manda aqui não é o parentesco, mas o mérito. “Quando você tem família e sociedade comercial, duas instituições para gerenciar, se você não souber definir muito bem o papel de cada uma, as duas vão quebrar”, admite Jorge.
O fundador pretende deixar a presidência da empresa em cinco anos. Mas vai continuar no negócio, como conselheiro.
“Perder toda essa bagagem, essa experiência é um desperdício. Ele é importante tanto para o
papel do sucessor dar certo, como para a continuidade do negócio”, afirma Pedro.
“Se o negócio deu certo, está dando, é graças a ele. Então, seria muito importante para a gente ter ele sempre presente”, avisa Camila. “Com o apoio dos meus irmãos e com a equipe que a gente tem, especializada, que está há muito tempo na companhia, estamos preparados para assumir essa sucessão”, explica Jorge Filho.
Mas,às vezes não há preparo que faça a sucessão familiar deslanchar. O dono de uma oficina mecânica bem que tentou, mas não teve jeito. Luiz Francisco Baptista é um apaixonado pelo que faz. Ele montou uma oficina de restauração de carros antigos em 1975. Desde então, só tirou férias uma vez, durante a lua-de-mel. Mas não aguentou a saudade da oficina, e voltou mais cedo.
“Viajei com minha esposa e fiquei uma semana. Aí, não aguentei mais, eu estou com vontade de voltar. Ela concordou e fiquei com saudade da oficina, ela dos pais, então resolvemos voltar, de comum acordo”, recorda Luiz Francisco.
Enquanto cuidava com tanto carinho do negócio, o empresário tinha um sonho: que o filho Luiz Fernando Baptista, que é piloto de corrida, assumisse um dia a empresa. Aos 19 anos, ele veio trabalhar com o pai. Mas aí os conflitos começaram.
O filho queria modernizar a oficina. Comprar equipamentos novos, fazer planejamento estratégico, informatizar. Já o pai continuava no ritmo dele. Arquivava os dados em fichas de papel, preenchia a mão a ordem de serviço... Até o tipo de telefone dava briga.
“Tinha duas linhas de telefone na mesa dele, eu botei um telefone sem fio com duas linhas, e quando ele voltou, olhou para o telefone e disse: ‘o que é isso’? Eu falei: ‘é um telefone, tem duas linhas, tudo”. Ele retrucou: ‘Mas como funciona?’. Eu afirmei: ‘É fácil’, e expliquei tudo. Ele disse que o telefone não prestava! E mandou comprar aquele telefone de disco”, lembra Luiz Fernando.
Depois de oito anos tentando trabalhar juntos, pai e filho só acharam um caminho: ir cada um para o seu lado. O pai continuou na empresa dele, e o filho abriu outra oficina, a dois quarteirões daqui. Em vez de sucessão, a saída foi – separação! trabalho foi dividido. Enquanto o pai cuida da mecânica dos carros, o filho faz funilaria, pintura e customização dos veículos. Hoje, um indica clientes para o outro, mas ninguém se mete no negócio alheio.
“Cada um se adapta melhor à sua maneira de trabalhar”, afirma Luiz Francisco. Quanto à sucessão, o filho garante: só assume a empresa quando o pai sair.
“O dia que ele faltar, eu vou ter que assumir a empresa dele e incorporar na minha. Não sei, se Deus quiser, falta bastante tempo!”, diz Luiz Fernando.
“Ainda estou podendo trabalhar, até onde der pretendo continuar”, observa Luiz Francisco.
Por: PEGN On line
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sábado, 30 de maio de 2009
O real entrou para a elite
O aumento da volatilidade e a desvalorização da moeda sempre foram o comportamento típico do câmbio no Brasil quando ocorriam tumultos na economia. Foi o que se viu no segundo semestre do ano passado, quando o real voltou a oscilar bruscamente e chegou a perder 40% do valor frente ao dólar. Nos últimos meses, a economia mundial permaneceu instável. Mas o real inverteu a tendência. Tornou-se a moeda número 1 em valorização entre as mais relevantes do mundo - até 25 de maio, o real registrava alta de 14%, cotado a 2,03 por dólar. Com isso, entrou para uma espécie de pelotão de elite composto das moedas vencedoras na crise, ao lado do rand sul-africano e do dólar australiano. Na ponta oposta, rublo, iene e franco suíço acumulam queda. "Se tudo continuar como está, o Brasil não será mais um país de moeda fraca e volátil", diz o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "É um país hoje sério. Aquela história do De Gaulle não se aplica mais a nós."
O movimento de valorização do real, contudo, reativou um debate: contar com moeda mais forte é vantagem ou desvantagem para a economia brasileira? A corrente do contra é puxada por exportadores e economistas que apontam a perda de competitividade externa. Para os que defendem o fortalecimento do real como algo positivo, o mais importante é que ele representa uma chancela de que o Brasil está no clube dos países que enfrentam bem a crise e sairão dela antes. Ambos os lados têm suas razões, mas, para chegar a uma conclusão sobre o efeito total na economia, é necessário examinar com mais cuidado os argumentos.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que há um fenômeno geral: más notícias que continuam a rondar os Estados Unidos depreciam o dólar. O recente alerta de que a dívida pública do Reino Unido pode ter sua classificação de risco rebaixada foi lido pelo mercado como um recado sobre o que pode acontecer com a própria nota dos Estados Unidos. Em contraste, o Brasil goza de uma projeção inédita em circunstâncias de crise. "Investidores internacionais veem o país numa posição relativamente confortável", afirma Paulo Mateus, economista do banco Barclays. A agência de avaliação de risco Moodys, que ainda não incluiu o Brasil no grupo de países seguros para investimento, deu sinal de que agora a promoção pode sair. A recuperação do preço internacional de commodities como soja e açúcar é outro fator que tem ajudado o real. "O Brasil é grande exportador de produtos básicos e, quando o preço deles aumenta, o real também ganha valor", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. Com a reação das commodities, uma leva de investidores estrangeiros foi atraída para a Bovespa e estimulou a alta das ações. Outros vêm em busca de ganho com a taxa de juro - que, apesar de estar em queda, continua atraente. Essa entrada maciça de dólares vitamina ainda mais a moeda brasileira.
Entre as consequências positivas do real vigoroso está a possibilidade de um alívio fiscal. O fortalecimento da moeda diminuiu a dívida pública federal em 14 bilhões de reais. As empresas contabilizam efeito semelhante. Cálculos da consultoria Economática mostram que, no atual patamar do câmbio, o endividamento de 71 grandes companhias brasileiras de capital aberto deverá diminuir em 22 bilhões de reais. "Isso significa que os balanços do segundo trimestre apresentarão lucros maiores", diz Fernando Excel, sócio da Economática. Um real mais valorizado também reaquece um mercado que ficou fechado no auge da crise: o de captações externas. Petrobras, Odebrecht e Telemar já conseguiram levantar capital. A estimativa do mercado é que pelo menos 4 bilhões de dólares sejam captados por companhias brasileiras nos próximos meses. "Pela primeira vez, o Brasil é olhado de uma forma diferenciada nesse mercado", afirma Jean Pierre Dupui, diretor de operações estruturadas do banco Santander. Um exemplo disso ocorreu na emissão de bônus de dez anos da Petrobras, em fevereiro. A estatal obteve taxas melhores que a Pemex, petrolífera mexicana, que havia realizado uma operação parecida dias antes. Detalhe: o risco-país do México é menor que o do Brasil, fator que costumava explicar as captações a custo menor dos mexicanos.
No lado oposto, é claro que a valorização do real implica diminuição da competitividade. Os exportadores de produtos manufaturados, num cenário de demanda global fraca, são as principais vítimas. A AP Müller, fabricante gaúcha de couros, que exporta quase toda a produção para Ásia, Europa e Estados Unidos, registrou queda de 40% nas vendas desde o começo da crise. Até o início do ano, parte do tombo foi compensada pela alta na cotação do dólar. Agora, com o fortalecimento da moeda brasileira, a AP Müller encontra-se no pior dos mundos. "Um real mais fraco encobria custos que temos no Brasil", diz Cezar Müller, dono da empresa. "Agora, voltamos a ficar sem competitividade em muitos mercados." Eis aí, no exemplo da AP Müller, um efeito da valorização do real que nem sempre é bem compreendido: ela expõe ineficiências, entre as quais alta carga tributária, excesso de burocracia e precariedades na infraestrutura. O câmbio - que flutua conforme o comportamento de diversos fatores da economia - não é, porém, a solução para todos esses problemas.
Por Fabiane Stefano - Portal Exame
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sexta-feira, 29 de maio de 2009
Bovespa reconquista os 53 mil pontos e sobe 12,16% no mês
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Como usar a internet para obter um emprego
terça-feira, 26 de maio de 2009
Medicamentos genéricos completam uma década em forte expansão no país
domingo, 24 de maio de 2009
Juro alto derruba dólar, ameaça exportador e obriga governo a agir
No final do ano passado, quando o pânico com a crise atingiu seu auge, o dólar chegou a ser negociado acima de 2,50 reais, gerou o temor de quebra de empresas que fizeram apostas infelizes em derivativos de câmbio e impingiu fortes perdas a companhias endividadas em moeda americana. O único setor que viu com bons olhos a situação foi o exportador. "Quero que o câmbio volte a 2,80 reais", declarou em novembro Joesley Mendonça Batista, presidente da JBS-Friboi, a maior produtora mundial de carne bovina.
Para desgosto de Joesley e da maior parte dos exportadores, o dólar caminhou na direção contrária à esperada - e numa velocidade que surpreendeu até o analista mais otimista com a economia brasileira. Especialistas ouvidos pelo Portal EXAME atribuem a queda do dólar para a casa dos 2 reais à taxa de juros de dois dígitos da economia brasileira. Desde o início da crise, a Selic caiu de 13,75% para 10,25% ao ano - enquanto quase todo o mundo desenvolvido paga uma remuneração próxima a zero para investimentos em títulos públicos.
Bastou a economia mundial dar leves sinais de recuperação para que o país virasse palco de uma enxurrada de dólares em busca de aplicações atrativas. A menor percepção de risco beneficiou tanto a Bovespa - que já atraiu mais de 7 bilhões de reais em investimentos estrangeiros neste ano - quanto o mercado de renda fixa. Segundo o BC, apenas nos dez primeiros dias úteis de maio, o fluxo cambial para o Brasil ficou positivo em 2 bilhões de dólares. Com tamanha entrada de recursos, fica difícil imaginar que o real, que já se valorizou 7% neste mês, possa engrenar uma tendência de baixa.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, afirma que a percepção de que o Brasil vai se recuperar antes da crise contribui para a atração desse enorme fluxo de recursos. "Países como o México, que poderiam atrair parte desse capital, estão numa situação bem pior e não oferecem taxas tão atrativas quanto as brasileiras." Ele também diz que o movimento de valorização do dólar nas últimas semanas é mundial e, em parte, foi incentivado pelo próprio Federal Reserve (o banco central dos EUA). Para aumentar a liquidez dos bancos e ajudar a destravar o crédito, "o Fed está inundando o mercado de dólares por meio da compra de títulos públicos e privados, num montante que chega a aproximadamente 700 bilhões de dólares", afirma. "O Brasil apresenta as condições mais favoráveis para atrair esse capital."
Drama para os exportadores
Se por um lado o ingresso de dólares levou euforia à Bovespa nas últimas semanas, os exportadores já demonstram enorme inquietação, apesar de o dólar estar ainda muito abaixo do patamar de 1,60 real alcançado no ano passado. "O que vai ser muito mais dramático agora é que vamos ter sobrevalorização cambial com preços internacionais baixos", diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp. Segundo ele, produtos como o aço custavam 3.000 dólares por tonelada no ano passado e agora valem 1.500 dólares. O alumínio caiu de 3.500 dólares a tonelada para 1.700 dólares e a carne, de 4.000 dólares para 2.600 dólares. "Com essa taxa de câmbio e esses preços, será insuportável para o exportador brasileiro", diz. "Por mais competitivo que ele seja, o empresário terá de decidir entre vender com prejuízo ou parar de exportar."
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, os exportadores de produtos manufaturados serão os mais prejudicados. "A cotação das commodities caiu muito, mas ainda está próxima dos patamares históricos." Já setores que dependem de mão-de-obra intensiva como os de calçados e confecções ou empresas que dependem do câmbio para ser competitivas como o automobilístico e o de utensílios domésticos serão muito afetados. "No mês passado, os embarques de commodities superaram os de manufaturados, situação que não era registrada desde 1978", afirmou.
Qual é a solução?
A ajuda ao setor exportador passa por uma solução mais complexa do que um simples e drástico corte na taxa de juros. O analista de câmbio do Banco Brascan, Gustavo Santos da Costa, lembra que o atual patamar dos juros já é baixo considerando o histórico brasileiro. Com a atual taxa de inflação e do risco-Brasil, ele acredita que a Selic poderia cair para até 9% ao ano. "Um corte mais agressivo na taxa de juros poderia ser prejudicial, provocando uma fuga de capitais ou acentuando o desequilíbrio já verificado entre a remuneração dos fundos e da caderneta de poupança", afirma. Outros economistas são um pouco menos céticos, mas é muito difícil encontrar alguém no mercado que acredite que os juros caiam abaixo de 8%.
O chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, diz que outra possibilidade para os exportadores manterem as margens de lucro está na utilização de operações de "hedge". As perdas bilionárias da Sadia e da Aracruz no ano passado, entretanto, são um alerta para que os derivativos sejam usados com moderação pelas empresas. "Elas devem utilizar o 'hedge' como forma de proteger o seu resultado operacional, não como mecanismo de especulação", diz Costa, do Banco Brascan.
Ajuda do governo
Os empresários também esperam que o governo atue de duas formas para reduzir o sofrimento dos exportadores:
1) O Banco Central deve continuar - e até intensificar - a compra de dólares para evitar a rápida desvalorização do dólar. O BC já vem enxugando a liquidez do mercado de câmbio nos últimos dias, mas analistas acreditam que essa medida é apenas paliativa;
2) O governo deve estudar formas de desonerar o setor exportador para evitar a compressão exagerada das margens de lucro.
O Portal EXAME apurou que os setores de carne bovina, siderúrgico e eletrointesivos (aqueles que utilizam muita energia) estão em negociações avançadas para obter um alívio tributário do governo. Segundo os balanços já divulgados ao mercado, frigoríficos como a Sadia, a Perdigão e o JBS-Friboi trabalharam com margens próximas a zero e registraram prejuízo líquido no primeiro trimestre devido à forte queda nas exportações. Já grandes siderúrgicas como Usiminas, Gerdau e CSN foram obrigadas a reduzir os preços cobrados dos clientes para driblar a concorrência de empresas estrangeiras, que estão com um excedente de produção de aço devido à crise. O setor negocia com o governo a elevação da TEC (Tarifa Externa Comum, do Mercosul) para a importação de aço como forma de evitar novos prejuízos nos próximos trimestres.
O governo, no entanto, não tem mais muito espaço para ajudar o setor privado. Após seguidas quedas na arrecadação de tributos, o governo reduziu nesta semana a previsão da receita orçamentária para este ano em 60 bilhões de reais. Medidas de desoneração fiscal poderiam aumentar esse rombo no futuro. Ao exportador que não tiver seu pleito atendido, restará torcer para que o fluxo de recursos estrangeiros para os mercados emergentes não seja tão intenso quanto o das últimas semanas.
Por: Gisele Cabrini (Portal Exame)
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sábado, 23 de maio de 2009
Transformando compromisso em comprometimento.
O trabalho destes pesquisadores permite concluir que os talentos de uma empresa transcendem o nível do compromisso formal e passam a apresentar comprometimento se três estados psicológicos estiverem presentes. São eles:
1 - A Significação Percebida – que equivale ao grau com que o indivíduo percebe a importância, o valor e o aspecto significativo do trabalho que realiza;
2 - A Responsabilidade Percebida – que equivale ao grau de responsabilidade que o indivíduo experimenta frente aos resultados do seu trabalho;
3 - Conhecimento dos Resultados do Trabalho – que equivale à compreensão que o indivíduo possui quanto à efetividade do trabalho que realiza.
O contrato de trabalho estabelece um compromisso entre o indivíduo e a empresa, mas o comprometimento não é estabelecido pela formalização contratual, porque implica quantidade de energia, valor e esforço extra com que o indivíduo realizará as tarefas estabelecidas pelo compromisso.
Existem vários níveis de contratos. Os contratos informais estabelecidos moralmente entre líderes e liderados são muito mais profundos que os formalizados juridicamente.
Precisamos envolver os colaboradores da maneira mais ampla possível, permitindo que o trabalho seja significativo (favoreça a auto-realização), envolvente e responsável (favoreça a interdependência) e gratificante para o indivíduo (através de estímulo, feedback e reconhecimento).
Quando transformamos compromisso em comprometimento estabelecemos um vínculo psicológico de resultado moral entre lideres e liderados, promovemos o encontro entre os objetivos pessoais do indivíduo e os objetivos “impessoais” da organização. Nas palavras de Peter Senge, agindo assim, estamos estabelecendo um sonho coletivo!
Este vínculo psicológico, na forma de sonho coletivo, permite:
- Satisfação geral com o trabalho;
- Auto-motivação para o trabalho;
- Produção de trabalho de alta qualidade;
- Redução do absenteísmo e da rotatividade.
Na execução de Coaching temos que ter em mente a fundamental importância de gerar um alto nível de significação, responsabilidade e conhecimento dos resultados a serem atingidos. Somente assim podemos preparar indivíduos para desempenharem em alta performance as suas competências. Relembrando Viktor Frankl: “as pessoas estão em busca de sentindo”.
Por: Amauri Nóbrega
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Consumidor vira parceiro de empresa carioca
Um pouco da atividade da Camisteria.com pode ser conhecida no quarto programa da série de rádio Faça Diferente, que vai ao ar nesta quinta-feira (21) por emissoras de todo o País. A produção é parceria do Sebrae com a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). Com casos de sucesso como o da empresa do Rio de Janeiro, a série mostra ao empresário que a inovação encontra-se ao alcance de todos e pode ajudar muito no crescimento dos negócios.
A Camiseteria.com surgiu em 2005 pelas mãos dos sócios Fábio Seixas e Rodrigo David. Designer, Rodrigo havia vencido um concurso de estampas nos Estados Unidos, promovido nos moldes de como funciona hoje a Camiseteria. Seixas e David gostaram da idéia e moldaram um negócio semelhante no Rio.
Fábio Seixas lembra que desde o princípio a idéia foi um sucesso e conquistou consumidores do eixo Rio-São Paulo, onde se concentram 60% de sua clientela, no resto do Brasil e em outros países. “O site da nossa empresa recebe em torno de 15 mil visitas por dia e já distribuímos aproximadamente R$ 160 mil em prêmios”, contabiliza Fábio. A firma vende mais ou menos 2,5 mil camisetas por mês.
O empresário diz que os motivos para os desenhos normalmente são livres, embora, eventualmente, haja concursos temáticos. Isso ocorreu na Copa de 2006. Com o resultado da parceria entre a empresa e seus próprios clientes, a Camiseteria.com lança uma coleção de peças mensalmente.
Na opinião de Fábio Seixas inovar quer dizer implantar uma idéia de forma lucrativa. “É criar algo e pôr no mercado”, define. Segundo Seixas, a inovação é acessível e não custa caro. “Obviamente existe a inovação tecnológica de ponta, que exige grandes recursos. Mas dá para inovar sem gastar tanto, com atitude”, defende. “Se você encontra uma forma diferente de se comunicar com seu cliente, você inovou”, exemplifica.
Fábio aproveita para elogiar o trabalho do Sebrae no apoio aos empresários de negócios de micro e pequeno porte. Há seis anos, ele cursou o seminário Empretec no Sebrae no Rio de Janeiro. “É uma experiência fantástica. Qualquer um que pretenda trabalhar como empresário deve cursar o Empretec”, recomenda.
Por: Agência SEBRAE de Notícias
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sexta-feira, 22 de maio de 2009
A doce vida no apocalipse
A noite está agradável em Nova York, um calor de verão em plena primavera, e o economista Nouriel Roubini, de 50 anos, decide que pelo menos no momento não fará nenhuma previsão alarmista sobre o estado da economia mundial. Em vez disso, sobe ao palco de uma conhecida casa de eventos onde é o homenageado em um jantar de gala e conta uma de suas piadas preferidas. "Encontrei certa vez, num evento internacional, uma senhora russa que me disse que economistas são como terapeutas sexuais: conhecem mil posições, mas nunca as praticaram. Eu respondi a ela: ´Minha senhora, eu faço economia aplicada`." A gargalhada é geral entre as 2 000 pessoas que o ouvem. Nessa noite, o homem que ganhou o apelido de "Dr. Apocalipse" graças a suas previsões certeiras sobre a crise mundial não parece nada sombrio. Muito pelo contrário. Sorridente, Roubini tira inúmeras fotos com os participantes do jantar, que pagaram no mínimo 500 dólares pelo ingresso para vê-lo falar.
E responde a qualquer pergunta, mesmo as mais atrevidas, com imbatível bom humor. "O senhor está preocupado com a crise?", pergunta um repórter da New York Magazine. "Por que estaria? A crise tem sido boa para mim", dispara ele. "Qual a proporção ideal entre mulheres e homens em suas festas?", segue o repórter. "Dez mulheres para cada homem é o ideal", responde ele. "Então sua vida amorosa deve estar movimentada", diz o jornalista. "Não, na verdade não tenho um encontro amoroso há dez meses", revela o Dr. Apocalipse.
Na manhã seguinte, de volta ao escritório e já vestindo os indefectíveis terno preto e camisa branca, o economista recém-chegado ao mundo das celebridades globais retoma o discurso sério numa entrevista exclusiva a EXAME. "Quando eu fiz minhas previsões, muitos disseram que eu era catastrofista. Ora, deem um tempo! Eu deveria ser considerado otimista, porque em muitos aspectos a crise foi bem pior do que eu previa", diz ele. "Essas pessoas que continuaram pregando que nada aconteceria deveriam ser presas pelo mal que causaram." O tom um tanto rancoroso de Roubini tem uma explicação. Desde que inaugurou seu site de informações financeiras, o RGE (sigla para Roubini Global Economics) Monitor, no final da década de 90, esse judeu turco, formado em economia na Itália e com Ph.D. em Harvard, buscava - em vão - se tornar uma voz relevante entre os grandes economistas dos Estados Unidos. Apesar de ter conseguido algum reconhecimento na época da crise asiática, era apenas um coadjuvante entre os grandes nomes da economia mundial. E antes de a tormenta eclodir, quando a economia ainda não dava sinais de deterioração, chegou a ser alvo de chacota de seus pares. Em setembro de 2006, foi ridicularizado em público em um debate do FMI pelo economista indiano Anirvan Banerji. Na ocasião, Roubini disse que uma crise sem precedentes estava prestes a desabar, como resultado do colapso do sistema financeiro americano. Virou piada. Poucos meses depois, veio ao Brasil para prospectar clientes e dar algumas entrevistas. Sua ladainha premonitória passou meio despercebida (ele esteve no Banco Central e com os diretores do BNP Paribas e da gestora de recursos Hedging-Griffo). "A viagem foi produtiva, mas dava para ver o ceticismo do pessoal", diz a brasileira Vitoria Saddi, que foi analista do RGE e acompanhou Roubini na ocasião.
Nada como uma previsão certeira para transformar a carreira de um economista obscuro e empreendedor iniciante. Quando foi fundado, em 1997, o site era feito na Universidade de Nova York (NYU), onde Roubini ainda era professor associado (atualmente, ele é titular). Hoje, o RGE tem 45 funcionários e escritórios em Londres e Hong Kong. A sede da empresa ainda não acompanhou os tempos de estrelato. É composta de oito salas alugadas, sem divisórias e paredes nuas, num prédio no Soho, em Nova York. Mas essa estrutura está prestes a ser trocada por um local mais moderno na mesma vizinhança. Embora os executivos não revelem o faturamento, estima-se que as receitas do RGE, que não chegavam a seis dígitos até 2005, devam alcançar no mínimo 15 milhões de dólares neste ano. Um bom negócio para os poucos investidores que, em 2004, acreditaram no Dr. Apocalipse. Entre eles o ex-presidente do Banco Central e dono do Gávea Investimentos, Armínio Fraga, interlocutor frequente de Roubini. "O site faz o que o Google não consegue com os textos de economia: filtra o conteúdo. E é um ótimo negócio", diz Armínio Fraga, que conheceu Roubini ainda nos anos 90, enquanto morou nos Estados Unidos. Para Fraga, foi a veemência dos alertas de Roubini sobre a crise que atraiu a atenção para ele. "Ele entendeu bem a dinâmica das bolhas. Foi um dos poucos que previram o tamanho do estrago", diz o ex-presidente do Banco Central brasileiro.
Alçado à condição de único analista econômico que viu a crise chegar, Roubini agora se impôs um novo desafio: anunciar quando a economia vai iniciar um ciclo sustentável de recuperação. Embora ele não pareça - ou não queira parecer - muito empenhado em fazer a previsão mais exata sobre o tema, acertar esse momento se tornou a grande obsessão dos executivos de sua empresa. "Todos sabem que o RGE só cresceu graças a ele, e acertar na mosca o momento da retomada pode garantir o futuro", diz uma pessoa a par das discussões na empresa de Roubini. Mesmo repetindo à exaustão que não será um pessimista para sempre (ele agora está tentando emplacar um novo apelido para si próprio, o de "Dr. Realista", no lugar de Dr. Apocalipse), Roubini continua a ser menos otimista que a média. Durante a conversa com EXAME, ele disse que os recentes movimentos de alta nas bolsas de todo o mundo são mais um surto de volatilidade comum a momentos de crise aguda. "A história mostra que há pelo menos seis ou sete surtos de alta em meio a grandes crises. Esse é um deles." Defensor da tese de que o movimento dos indicadores da economia nesta crise será semelhante ao desenho de um "U", Roubini explica, com gestos, olhando por sobre os óculos pendurados na ponta do nariz, que estamos na primeira curva do "U", aquela que leva ao fundo do poço. "A contração da economia começou a ficar mais lenta e menos acentuada. Vejo o fundo do poço por volta de meados do ano que vem. No segundo semestre começa a recuperação. Mas será uma recuperação relativamente fraca", diz Roubini enquanto toma um copo grande de café no balcão de um Starbucks a poucos passos de seu escritório.
Embora considere que o governo do presidente Barack Obama mereça crédito, o economista está entre aqueles que acham que o teste de estresse realizado pelo governo nos bancos americanos, cujos resultados se tornaram públicos dias atrás, não foi sério o suficiente. "Os testes não foram bem-feitos, e logo as pessoas vão perceber que ainda restam problemas nos bancos. Somado aos dados de consumo e aos novos números da economia, isso vai levar a novas quedas nas bolsas", diz. Para Roubini, a chave da recuperação está no aumento do consumo, não só nos Estados Unidos como em todo o mundo. Em sua opinião, os cortes de impostos e subsídios realizados pelo governo Obama ainda não foram suficientes para impulsionar o consumo dos americanos. E ele acha que é justamente pela dificuldade de impulsionar o consumo interno que a China terá dificuldades em voltar ao ritmo de crescimento anterior à crise. Sobre o Brasil, as opiniões de Roubini não vão além do que tem dito a maioria dos economistas locais. "Por ter adotado uma regulação bem mais sofisticada, o país, assim como outras economias latino-americanas, está em melhores condições", diz ele, que aposta numa redução de até 2 pontos na taxa Selic em 2009.
Fazer previsões, por sinal, não é nenhum problema para o Dr. Apocalipse. Ele constrói cenários futuros em profusão e descreve a maneira como chega a seus vaticínios como um "processo holístico", que se alimenta até de conversas com taxistas e funcionários dos aeroportos dos locais que visita. "Eu comparo os dados, converso com as pessoas, ligo os pontos e chego a uma conclusão", diz ele. Por nunca ter sido fã dos modelos econométricos nem dos artigos repletos de equações, Roubini foi por muito tempo discriminado no ambiente acadêmico. Suas previsões equivocadas também não ajudavam muito (veja quadro na pág. 114). A situação começou a mudar depois que um de seus artigos, intitulado Twelve Steps for Financial Disaster ("Doze passos para o desastre financeiro", numa tradução livre), publicado em fevereiro de 2008, foi se mostrando terrivelmente preciso. Ele previa a derrocada das agências governamentais Fannie Mae e Freddie Mac, dizia que pelo menos um grande banco estava prestes a quebrar como consequência do excesso de endividamento e que a crise viria a se alastrar no mundo todo. No mês seguinte, o Bear Stearns faliu. "O Bear Stearns mal havia quebrado e ele disse, num evento da universidade, que foi uma pequena amostra do que estava por vir. A sequência de fatos que descreveu era sinistra. Mas ele estava certo", diz o professor Matthew Richardson, um dos maiores colaboradores de Roubini na Universidade de Nova York. Onde, claro, o Dr. Apocalipse passou de outsider a estrela de primeira grandeza. "Ele tem sido generoso, ajudando a promover a universidade com seu sucesso", diz outro colega, o indiano Viral Acharya, que coordenou, com Richardson, a edição de um livro com artigos de professores da NYU sobre a crise. Roubini assinou o prefácio.
No discurso, Roubini está preocupadíssimo com a fama de playboy que angariou por causa de sua intensa agenda social. Solteirão e galanteador, ele diz que ficou especialmente irritado com a grande publicidade que ganharam os relatos das festas que ele dá em seu loft, em Tribeca, bairro moderninho de Nova York vizinho a Wall Street. E com as inúmeras reproduções, na mídia do mundo todo, das fotos em meio a mulheres bonitas que ele colocou em sua página no site de relacionamentos Facebook. Na ocasião, Roubini chegou a acusar de antissemita um blogueiro que reproduziu suas fotos do Facebook. Há poucas semanas, pediu a outra blogueira que retirasse da rede fotos de pequenas vaginas esculpidas na parede de sua casa por uma artista plástica, alegando invasão de privacidade. Após esses episódios, Roubini vetou o acesso de desconhecidos à sua página no Facebook e mudou o tom das mensagens que coloca em seu Twitter. Numa mensagem de janeiro, perguntava se alguém queria ir com ele ao Buddha Bar de Dubai, onde estava para uma conferência. Os últimos posts já são mais lacônicos - todos remetem a artigos que publicou ou a eventos de que participa. Na prática, o Dr. Apocalipse tem aproveitado a valer seu novo status. Seus amigos de Facebook, por exemplo, ainda podem ver fotos suas com outras celebridades globais, como o escritor Paulo Coelho e o ex-vice-presidente americano Al Gore, nos bastidores da conferência do Fórum Econômico Mundial, em Davos. E permanecem na página as fotos com as beldades que frequentam seu loft. Elas mostram que, para o Dr. Apocalipse, a vida continua uma festa. Pelo menos enquanto a economia estiver em baixa.
Por Malu Gaspar, de Nova York (Portal Exame)
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quinta-feira, 21 de maio de 2009
Empresário mineiro cria conversor de combustível
Permitir a opção de usar mais de um tipo de combustível, possibilitar a economia e ajudar na preservação do meio ambiente. Esses são conceitos relacionados ao desenvolvimento do Ecoflex Auto, dispositivo que adapta um veículo para o uso de dois a três tipos de combustíveis. O produto é desenvolvido pela empresa Exsto, localizada no pólo tecnológico de Santa Rita do Sapucaí, município conhecido como Vale da Eletrônica.
César Alckmin, engenheiro e diretor administrativo da Exsto, conta um pouco do seu trabalho na série de programas de rádio 'Faça Diferente', produzida pelo Sebrae, em parceria com a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), e transmitida para todo o Brasil. O programa vai ao ar nesta quarta-feira (20).
A Exsto começou suas atividades em 2001, dentro da Incubadora de Empresas Municipal, mantida pela prefeitura. A empresa produz bancadas didáticas para laboratórios e conversores de combustível.
Alckmin lembra que, após deixarem a incubadora, ele e seu sócio, José Domingos Adriano, foram procurados por uma empresa de Ribeirão Preto (SP) interessada na fabricação dos conversores. “Ficava caro pôr a idéia em prática. Tivemos de buscar recursos”, conta o empresário.
O projeto foi viabilizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), do CNPq e do Sebrae em Minas Gerais. O CNPq cedeu bolsistas para ajudar no trabalho, a Fapemig financiou o projeto e o Sebrae/MG ofereceu recursos para a contrapartida da empresa, por meio do Sebrae Tec (mecanismo que tem como finalidade promover a melhoria e a inovação de processos e produtos de micro e pequenas empresas), e para consultorias tecnológicas.
O Ecoflex Auto existe em dois formatos: o conversor bicombustível e o tricombustível. O primeiro possibilita que um automóvel a gasolina também possa circular com álcool. Já o tricombustível permite que um veículo a gasolina funcione com álcool e ainda com o Gás Natural Veicular (GNV). O conversor bicombustível foi lançado em julho de 2008 e o tricombustível deve chegar ao mercado ainda este ano.
Menos emissão de gases
Para que o carro possa ter o Ecoflex Auto instalado, é necessário que possua direção hidráulica. “Parte significativa de nossa frota poderia utilizar conversores”, afirma César. Segundo ele, ao usar outros combustíveis que não sejam a gasolina, como o álcool e o GNV, além de economizar, o condutor diminui o nível de poluição na atmosfera. “O álcool reduz em até 30% a emissão de gases tóxicos. Com o GNV a diminuição pode ser de até 70%”, calcula Alckmin.
O conversor bicombustível custa R$ 250. Segundo César, quem adquirir o produto cobre os gastos em apenas três meses, por conta da economia de combustível.
Na opinião do diretor-administrativo da Exsto, que participa do programa de rádio ‘Faça Diferente’, promover a inovação significa buscar soluções para problemas da sociedade. “A inovação precisa entrar no mundo real, ser aplicada na prática e causar impacto na vida das pessoas”, opina.
O empresário mineiro se diz otimista pela perspectiva de que a inovação se dissemine por micro e pequenas empresas e pelo país, por conta dos recursos reservados a este fim nos últimos anos pelos órgãos de fomento federais, estaduais, como as fundações de apoio à pesquisa, e o Sebrae.
Por: Agência SEBRAE de Notícias
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Brasil sobe três posições em ranking de competitividade
A escola suíça de negócios International Institute for Management Development (IMD) divulgou nesta quarta-feira (20) o Relatório Anual de Competitividade (WCY) de 2009, em que relaciona as economias mais competitivas do mundo. No balanço deste ano, o Brasil ganhou três posições em relação a 2008, atingindo o 40º lugar entre os 57 países analisados. Os dados brasileiros da pesquisa foram compilados pela Fundação Dom Cabral.
Apesar da crise financeira global, a liderança continua com os Estados Unidos, seguido de Hong Kong, que inverteu posições com Cingapura. A Suíça está em 4º e a Dinamarca fecha os cinco primeiros. No ranking, a distância entre o Brasil e as nações mais bem colocadas diminuiu. Essa mudança foi influenciada tanto pela redução das diferenças entre as economias analisadas - principalmente em relação aos Estados Unidos - quanto pelos ganhos competitivos reais apresentados pelo Brasil.
O estudo destaca ainda 15 itens que tiveram melhoria (entre eles os investimentos estrangeiros no país e capitalização de ações) e outros 15 que pioraram ao longo do ano (como a taxa de inflação). Para compor o ranking, são analisados quatro aspectos de cada nação separadamente: performance econômica, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura. À exceção da eficiência do governo, o Brasil registrou melhora em todos os índices. O melhor desempenho brasileiro foi na performance econômica, que ganhou 10 posições e agora ocupa o 31º lugar. O setor empresarial também teve bom resultado e subiu 2 posições, passando para o 27º lugar.
Em nota, o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, comentou os desafios para 2009. "Como desafios para o futuro, e principalmente visando manter essa capacidade de resistência a instabilidades, o Brasil necessitaria manter políticas cambial, de juros e de inflação adequadas ao perfil do país, estimular o consumo através da redução da carga tributária, incrementar os níveis de emprego e renda através de revisão das leis trabalhistas e previdenciárias e manter os níveis de investimento em infraestrutura através da implementação efetiva do Plano de Aceleração para o Crescimento - PAC. Para o longo prazo, o grande desafio do país estaria em conseguir promover campanhas de conscientização e incentivos corretos aos investimentos em inovação."
O prêmio Nobel de Economia Edward Prescott afirmou recentemente em evento da revista EXAME que se o Brasil seguir o atual ritmo de recuperação, poderá alcançar as nações industriais em curto prazo. Mas o economista observou que o governo ainda precisa melhorar suas políticas. Entre as medidas aconselhadas por Prescott para acelerar a recuperação brasileira, estão a descentralização dos pólos econômicos, estimulando a competição entre os estados.
Entre os pontos fracos do desempenho econômico está a taxa de desemprego a longo prazo. E é um ponto que deve ser analisado com atenção. Desde dezembro de 2008, a taxa vem registrando sucessivas altas, reflexo da crise econômica global que chegou ao país, atingindo os 9% em abril. Os últimos dados divulgados pelo IBGE mostraram que em março a população desocupada ultrapassou os 2 milhões de pessoas pela primeira vez em 18 meses - uma alta de 7,3% em relação a fevereiro.
Por: Portal Exame
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quarta-feira, 20 de maio de 2009
O Brasil pode sair mais forte
EXAME Fórum, em São Paulo: reunião inédita no país de três vencedores do Nobel de Economia
É com um misto de ceticismo em relação aos países ricos e discreto otimismo frente ao mundo emergente que três vencedores do prêmio Nobel de Economia - Edward Prescott, Joseph Stiglitz e Robert Mundell - analisam os recentes sinais de reação na economia mundial. Reunidos em São Paulo no dia 11 de maio para o EXAME Fórum, primeiro encontro no país a juntar três laureados com a mais alta distinção entre economistas, eles foram unânimes em dizer que a queda livre na economia global está próxima do fim, mas que ainda é cedo para declarar vitória. Os efeitos da crise continuarão a ser sentidos por algum tempo. E as soluções, quaisquer que sejam elas, provavelmente levarão tempo para surtir um efeito generalizado no mundo. "Lamentavelmente, os problemas ainda estarão conosco por muitos e muitos meses", disse Stiglitz, professor da Universidade Columbia, ex-economista-chefe do Banco Mundial e um pessimista assumido. Prescott, professor na Universidade do Arizona e conselheiro do Federal Reserve de Minneapolis, uma das divisões do banco central americano, segue uma linha de raciocínio semelhante: "Os Estados Unidos perderão uma década de crescimento, assim como ocorreu com o Japão nos anos 90". Stiglitz, Prescott e Mundell foram os protagonistas do evento A Crise Global e as Alternativas para a Reconstrução da Economia, promovido por EXAME e que contou também com a presença do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. A uma plateia de cerca de 250 empresários, altos executivos e políticos, como o governador de São Paulo, José Serra, eles traçaram um cenário bem mais tranquilo para o Brasil - o país é apontado como um dos mais preparados para sair do atoleiro em que se encontra a economia mundial.
A questão central do debate foi se a atual crise já atingiu seu ápice e quando - e como - se dará o processo de recuperação da economia global. Nesse sentido, há caminhos distintos a ser trilhados. Para os países ricos, em especial os Estados Unidos, o fim da crise depende não apenas de uma recuperação conjuntural, mas sobretudo da regeneração de seu comprometido sistema financeiro. O provável é que o pior da crise terá passado quando os bancos americanos estiverem, enfim, saneados. É um cenário bem distinto do que se vê nos grandes países emergentes, como Brasil e China. "Por aqui, o fim da crise depende somente da volta do crescimento", diz Delfim Netto. Não é para menos que as previsões para os Estados Unidos são desalentadoras. "A tempestade está apenas no começo", disse Stiglitz. As evidências vêm do aumento do desemprego, da queda na renda e da estagnação do consumo - item considerado fundamental para manter aquecido o motor da economia americana. No mercado imobiliário, apesar dos primeiros sinais de aumento na venda de novas residências, a situação continua grave. Calcula-se que, em 2010, cerca de 2 milhões de hipotecas serão executadas (até agora foram 3,6 milhões). Prescott também prevê tempos difíceis pela frente - embora tenha sido enfático ao dizer que a atual turbulência não é uma reedição da crise dos anos 30, cujos reflexos se estenderam por 25 anos. Segundo ele, a principal diferença é que, até meados do ano passado, a economia americana vinha mantendo um crescimento relativamente forte. Desde então, três trimestres fecharam em queda - retração pequena quando comparada à perda ocorrida no crescimento após o crash da bolsa americana, em 1929.
Stiglitz, Prescott e Mundell seguem linhas políticas e acadêmicas diferentes. Mas compartilham da mesma visão em relação aos primeiros 100 dias de Barack Obama à frente da Presidência dos Estados Unidos. Obama teria errado em vários aspectos de seu plano de socorro à economia. "Obama está indo na direção errada em relação aos impostos. Esse é o maior equívoco do programa de recuperação", afirmou Mundell, professor de Columbia e conselheiro do governo chinês. Ele defende uma forte redução de impostos para as companhias americanas - dos atuais 35% para 15%. Segundo Mundell, sem esses cortes, a reação da economia será retardada e não aplacará um dos principais problemas das empresas nos Estados Unidos: a deficiência de lucros.
Assim como o tom sombrio pairou sobre as análises da economia americana, um otimismo moderado marcou a avaliação do mundo emergente. O pacote de recuperação da China - o país é tido como um potencial vencedor ao final da crise - é considerado o mais eficaz entre os lançados até agora. "O Brasil, por sua vez, tem claras vantagens sobre os outros emergentes", disse Delfim Netto. "É o único, nesse grupo, com instituições e democracia consolidadas." Aos 82 anos, e visto como um dos principais interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área da economia, Delfim previu um PIB brasileiro em queda até o final do terceiro trimestre deste ano. A partir do quarto trimestre, a economia retomaria o fôlego, podendo crescer até 4% em 2010.
O impacto menor da crise no Brasil foi entendido como herança de boas políticas adotadas - que têm garantido uma margem de manobra ao governo brasileiro. O país conta com 200 bilhões de dólares de reservas, posição mais confortável em comparação a crises do passado. Além disso, ainda há margem para o Brasil reduzir os juros - um tipo de munição em falta nos Estados Unidos, hoje com uma taxa de juro negativa. "A questão não é se o Brasil se tornará um país rico, mas quando isso vai ocorrer", disse Prescott. "Para isso, o país precisa estar integrado às economias mais avançadas, aumentando as exportações de alta tecnologia, internacionalizando suas empresas e atraindo mais multinacionais." Também foram lembrados os entraves no caminho do Brasil em direção ao clube dos ricos. Em horas de crise, antigos problemas - como alta carga tributária e carência em infraestrutura - cobram seu preço. "É preciso estar preparado para a retomada que virá e para aproveitar as oportunidades que já estão à nossa frente. É preciso estar preparado para sairmos desta crise mais fortes do que entramos nela", disse Roberto Civita, editor de EXAME e presidente do conselho de administração do Grupo Abril, na abertura do evento.
Por: Portal Exame
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Perdigão e Sadia anunciam 'grande multinacional' do setor de alimentos
No esquema desenhado para a fusão, a Brasil Foods será a sucessora da Perdigão. Os acionistas das duas empresas se tornarão acionistas da BRF e a Sadia se tornará, em um primeiro momento, subsidiária da nova empresa. Durante esse período, Sadia e BRF terão conselhos compostos pelos mesmos membros.
Sadia e Perdigão chegaram a trabalhar juntas no início da década na Brazilian Foods, uma associação para o mercado externo que não vingou. Em 2006, a Sadia, então maior, lançou oferta pela Perdigão. Desde então, a Perdigão comprou concorrentes menores e avançou em lácteos, com a incorporação da Eleva e da Batavo, ganhando tamanho.
Já a atual estrela da campanha da Sadia - personagem que zomba das demais marcas - deve perder espaço: "O Juvenal vai embora ou vai mudar de foco", disse o executivo da Sadia. "O tempo da alfinetada acabou, agora é só amor", brincou Nildemar Secches.
"A BRF vai dar a face para os segmentos institucionais. As marcas têm sua vida, sua comunicação própria. Vamos continuar com Perdigão, Sadia, Qualy, Doriana, Batavo", ressaltou o executivo da Perdigão.
"No mercado interno, as marcas hoje e sempre vão continuar. São marcas com um grande conhecimento." "Do ponto de vista comercial, os consumidores não vão sentir nada no dia seguinte, todas as marcas estarão lá", acrescentou Furlan.
No mercado externo, o presidente do Conselho da Perdigão afirma que será feito um estudo para definir qual segmento será explorado por cada uma das denominações.
De acordo com dados divulgados durante a entrevista, Sadia e Perdigão operam comercialmente em 110 países. "Quase metade do nosso faturamento vem do exterior", afirmou Secches. A nova empresa já nasce líder em alimentos processados no país, com cerca de 120 mil funcionários.
Apesar da maioria do capital ficar nas mãos dos acionistas da Perdigão, os dois executivos negaram se tratar de uma venda. "Não houve venda. Os acionistas de um lado e de outro continuam acionistas, compartilhando responsabilidades", disse Furlan.
Segundo ele, a administração da nova empresa "será regida por um sistema de mérito, por profissionais". A presidência do Conselho da nova empresa será dividida entre Nildemar Secches e Luiz Fernando Furlan pelos próximos dois anos.
Secches afirmou que, para abreviar as negociações, as duas partes decidiram deixar de fora as instituições financeiras da Sadia. "Simplesmente separamos e fizemos a associação da parte operacional", declarou.
Essas instituições - o banco e a corretora Concórdia - foram assumidas pelas famílias Furlan e Fontana, acionistas da Sadia. O patrimônio final dessas instituições, após uma distribuição de dividendos, ficou em R$ 67 milhões, segundo Furlan.
Para capitalizar o novo negócio, a Brasil Foods vai fazer uma oferta pública de ações no valor estimado em R$ 4 bilhões. Esses recursos deverão ser utilizados para quitar parte dos R$ 10 bilhões em dívidas do futuro conglomerado. A oferta deverá chegar ao mercado no final de julho.
Nos próximos 15 dias, o acordo de fusão será avaliado pelos acionistas das duas empresas, e sua aprovação depende da adesão da maioria. Para Furlan, no entanto, devem haver "surpresas".
A formação da nova empresa será também submetida às autoridades brasileiras de concorrência (Conselho Administrativo de Defesa Econômica - Cade e Secretaria de Acompanhamento Econômico - Seae).De acordo com Luiz Fernando Furlan, será criado uma espécie de comitê de integração, com participação de executivos de ambas as empresas, que funcionará ao longo dos próximos meses, com o objetivo de identificar pontos de economia com a criação da Brasil Foods.
Segundo o executivo, as empresas irão trabalhar na identificação de sinergias operacionais entre as duas companhias. Sem revelar um valor exato, Furlan disse que as diversas projeções de mercado, incluindo as feitas por Perdigão e Sadia, abrangem uma quantia entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões. O executivo afirmou que quatro empresas estão sendo convidadas a apresentar propostas para participar da identificação das sinergias. Segundo ele, a ideia é avaliar "sem 'emocionalismos'" as qualidades de cada empresa, em cada segmento de atuação.
O objetivo da nova empresa, de acordo com o executivo da Perdigão, será oferecer prestação de serviço "muito mais eficiente". "Queremos oferecer produtos de qualidade a preços acessíveis em todos os lugares do mundo", disse.
De acordo com o executivo da Perdigão, a fusão ajudará a cortar custos e a conquistar uma "quantidade muito maior da população brasileira". "Vamos chegar para o Nordeste, o Centro-Oeste e o Norte com produtos de boa qualidade a preços acessíveis", ressaltou, lembrando que a participação de industrializados de carne no mercado americano é de 40%, enquanto no Brasil é de 15%. "Podemos triplicar." Para Furlan, as sinergias das duas empresas vão permitir o repasse dessas economias aos preços. "Não estamos fazendo uma associação para pôr em risco essa fidelidade que temos com os nossos consumidores. (...) (A fusão) trará melhores benefícios de qualidade e também de preço", ressaltou.
Durante a entrevista, Secches presenteou o corintiano Furlan com uma camisa do Corinthians com o símbolo da Brasil Foods. A Perdigão patrocina o Corinthians e já estampou na camisa do time a própria marca Perdigão e a marca Batavo, da qual é proprietária. A camisa, no entanto, não é oficial.
terça-feira, 19 de maio de 2009
1 ano levando notícias ao empreendedor!!!
Vai comprar ou não vai?
Revista EXAME
Desde que o jovem Senor Abravanel decidiu vender bugigangas no centro do Rio de Janeiro, coisa de 50 anos atrás, o Grupo Silvio Santos (GSS) manteve a mesma estratégia de crescimento - devagar e sempre. Abravanel, o Silvio Santos, foi construindo em torno da rede de televisão SBT negócios a partir do zero. Nessa toada, nasceu seu negócio mais bem-sucedido, o banco Panamericano, que começou como mero instrumento de financiamento dos clientes do Baú da Felicidade e hoje responde por 70% do faturamento de 4,5 bilhões de reais do grupo. Nada menos que 35 empresas foram criadas dessa forma. Pois o ano de 2009 marca a transformação dessa estratégia de décadas. Pela primeira vez em sua história, Silvio decidiu vestir o figurino de comprador de empresas. "A nossa nova orientação é sair às compras", diz Luiz Sebastião Sandoval, presidente do Grupo Silvio Santos há 24 anos. "O crescimento orgânico é mais demorado do que estamos dispostos a esperar."
Mas o que leva Silvio Santos a se interessar por uma aquisição que pode transformar de maneira tão radical um negócio que vem dando certo há 50 anos? Segundo seu braço direito, Luis Sandoval, a resposta está na recente mistura de varejo com serviços financeiros. Para o GSS, o investimento em varejistas tem tudo a ver com o crescimento do banco Panamericano, negócio mais rentável do grupo. Comprando o Ponto Frio, o Panamericano ganharia uma invejável rede de distribuição de produtos financeiros, como crédito consignado, empréstimos pessoais e financiamento de veículos. "Para nós, a rede é mais que um negócio de eletrodomésticos. Também é um canal de venda de serviços financeiros", diz Sandoval. Caso Lily Safra aceite a proposta de Silvio Santos, porém, o banco Panamericano vai levar pelo menos mais dois anos até aproveitar a sinergia entre os negócios. Até o segundo semestre de 2011, o Ponto Frio tem um acordo de exclusividade com o Unibanco no InvestCred, que financia as operações de empréstimos aos clientes da rede. Mesmo que as negociações não levem a lugar algum, Sandoval já aposta num plano B um tanto mais modesto - a compra da rede Dudony, que tem 110 lojas no Paraná e no interior de São Paulo.
Paradoxalmente, a ida às compras surge num momento que, certamente, não é dos melhores para o Grupo Silvio Santos. No final do ano passado, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou o rating da companhia. O motivo para isso foi o impacto da crise financeira global nos fundamentos do grupo, inclusive no Panamericano. E, hoje, um espirro no banco causa um baita resfriado no grupo inteiro. Em 2008, o Panamericano diminuiu em 7% o volume de empréstimos em relação ao ano anterior, após quatro anos consecutivos de crescimento. Para analistas, a dependência excessiva de um negócio com alto grau de volatilidade aumenta os riscos do grupo como um todo. "A diversificação diminui o impacto negativo das crises de cada negócio", diz o executivo Mauro Storino, diretor da Fitch. O problema é que aquisições como as que o GSS pretende fazer custam dinheiro - muito dinheiro. A compra do Ponto Frio custaria cerca de 2 bilhões de reais, valor que as empresas de Silvio Santos não têm. É uma quantia alta mesmo para quem está habituado a jogar para a plateia aviõezinhos feitos com cédulas de 50 reais. Para financiar as aquisições, seria necessário endividar ainda mais o grupo, o que poderia dar origem a dúvidas sobre sua viabilidade financeira. Para a Fitch, Silvio Santos não tem caixa para comprar empresas. E suas intenções, embora racionais, são difíceis de realizar. Só ele, portanto, poderá responder à pergunta - vai comprar ou não vai?