sábado, 1 de agosto de 2009

Exportador, sua batata está assando

Dois indicadores econômicos importantes sinalizam que a luz vermelha acendeu de vez para as empresas brasileiras que exportam produtos manufaturados: a taxa básica de juros a 8,75% e o dólar na casa de R$ 1,88. Números como esses, no momento atual, são atípicos. Crise financeira para o Brasil há décadas é sinônimo de câmbio em alta (porque o investidor corria daqui levando o dinheiro) e juros igualmente em ascensão (que o Banco Central elevava na tentativa de atrair o dono do dinheiro de volta).

Walter Maciel Neto, sócio da gestora independente Quest Investimentos, com quem tomei várias xícaras de café na sexta, está entre os que identificaram a mudança. A Quest tem entre seus procedimentos cercar-se de informações macroeconômicas para organizar a composição e a direção de seus fundos de investimento. Depois de olhar vários cenários, Maciel está seguro de que a taxa de juros e o câmbio mudaram de patamar – e não há nada no horizonte mostrando que a tendência vai se reverter. A conclusão óbvia é que essa alteração vai criar um novo ambiente para os negócios e reestruturar a lógica de vários segmentos da economia.

O primeiro da lista é o exportador.
Com o real valorizado, os ganhos tendem a ser cada vez mais apertados. Para reagir, a empresa que exporta têm três alternativas básicas. A primeira é de caráter operacional: zelar pela eficiência na produção, reduzir custos, escolher muito bem clientes e nichos de mercado no exterior. Quem não consegue cortar gordura porque já está no osso tem uma segunda opção: se reposicionar no mercado interno, que tende a crescer nos próximos anos.
A terceira ação é orar. Sim. Rezar para que o governo faça o que há muito é pressionado a fazer, mas protela: a reforma do Estado. Só isso pode tornar a máquina pública menos onerosa e mais eficiente, o que abriria caminho para a redução do chamado custo Brasil.

Só para lembrar. Custo Brasil é o conjunto de vícios do Estado que, entra governo e sai governo, ninguém tem coragem de tratar e termina encarecendo os produtos fabricados por aqui. São eles: gasto público elevado, carga tributária nas alturas, legislação fiscal embaralhada, excesso de burocracia, altos custos trabalhistas e previdenciários, além de corrupção.
Feita a lição de casa no setor público, o setor privado brasileiro teria condições mais igualitárias de competir com outros países exportadores — e de sair menos arranhado do duro processo de ajuste que tem pela frente.
Por: Asalomao

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