domingo, 26 de julho de 2009

O mundo é cor-de-rosa

Clovis Souza aprendeu o ofício de florista aos dez anos de idade e transformou-o em um negócio de R$ 15 milhões

Aos dez anos de idade, Clovis Souza começou a trabalhar em uma floricultura instalada embaixo de sua casa, no bairro da Mooca, em São Paulo. Não por necessidade. O garoto queria conquistar a sua independência financeira e tanto insistiu que a tia arrumou o serviço. Sua principal tarefa era tirar espinhos de rosas e limpar as flores que seriam usadas nos arranjos. Pegava no batente às 14 horas, depois de voltar da escola e almoçar. Nos fins de tarde, a mãe aparecia para saber se estava tudo bem - e trazer um lanchinho. "Os outros funcionários riam muito de mim", relembra. Com o primeiro salário, fez questão de comprar uma pizza de mussarela para toda a família. "Desde aquela idade, eu queria ter o meu dinheiro", diz. Pois conseguiu: com seus próprios "trocados", comprou uma casa própria para cada membro do clã - a mãe, os três irmãos e ele mesmo. Souza transformou uma atividade prosaica em um negócio com faturamento anual de R$ 15 milhões projetado para 2009. Hoje, aos 39 anos, é dono da Giuliana Flores, uma das maiores floriculturas online do país. Com 89 funcionários - entre eles, nove familiares -, a empresa prevê neste ano vendas 40% superiores às de 2008.

Foram vários episódios e aprendizados em 29 anos de carreira, mas é possível afirmar que o destino do empresário foi traçado naquele primeiro ofício. O menino simplesmente apaixonou-se pelas flores. Manuseá-las dava-lhe um grande prazer e, curioso como só ele, Souza via um mundo se abrir naquela lojinha sob a sua casa. "Flores são usadas para presentear pessoas próximas em momentos de alegria. Poder participar dessas ocasiões é recompensador."

Ele permaneceu quatro anos em seu primeiro emprego. Depois, passou por outras quatro floriculturas. A ideia de abrir o próprio negócio surgiu quando tinha 22 anos. "Nesse momento, decidi que eu queria ter a minha floricultura, para implementar o meu jeito de trabalhar", diz. Souza tinha conhecimento e garra. O problema era a escassez de dinheiro. "Eu só podia contar com um carro velho e uma pequena poupança. Não daria para montar a empresa", conta. A saída foi recorrer à família, ou melhor, aos (semi) agregados. A mãe de sua namorada na época apostou no entusiasmo do então aspirante a empresário. Ela entrou com o capital e ele, com o trabalho. Como o orçamento ainda assim era apertado, Souza fez das tripas coração para montar a loja, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Ele mesmo colocou o piso e pintou as paredes. No shopping Center Norte, onde dava consultoria a uma floricultura, notou certo dia que havia peças de vidro no lixo. Souza não teve dúvida: colocou-as no carro e fez delas prateleiras para a sua primeira unidade.

No começo, o empresário manteve o emprego e a loja simultaneamente, porque receava não conseguir pagar o aluguel. A dupla jornada durou pouco. Dois meses depois de levantar as portas, a Giuliana Flores já tinha um faturamento que permitia arcar com as contas e caminhar com as próprias pernas. Souza logo mostrou a que veio. Escolheu o local a dedo, entre duas floriculturas tradicionais do bairro, uma com 19 anos de mercado e a outra com 27. "Sempre acreditei que a concorrência é saudável para o desenvolvimento do negócio, porque estimula a inovação", afirma. Para conquistar os clientes, ele procurava inventar arranjos diferentes. Visitava floriculturas de toda a cidade e ia a feiras de artesanato, com a de Embu, próxima à capital paulista, para buscar fontes de inspiração. "Em uma das feirinhas que visitei, no começo dos anos 90, vi pássaros de madeira que poderiam incrementar os arranjos. Comprei alguns e a novidade foi um sucesso."

Dois anos depois de abrir as portas da Giuliana Flores, Souza inaugurou a segunda unidade, também em São Caetano do Sul. O que seria uma conquista importante - e suficiente - para qualquer empreendedor, para Souza era só um passo. Ele não queria ficar restrito à duas "lojinhas". Resolveu então criar a venda de flores por catálogo (na época, nem se esboçava a internet). "A gente tirava fotos dos produtos, imprimia e entregava na região do ABC paulista." A experiência foi importante para o início da Giuliana Flores online. Quando a empresa decidiu ir para a internet, no ano 2000, já tinha experiência em fazer fotos dos arranjos, entregar as flores e receber pedidos a distância.

Em nove anos, os processos foram aperfeiçoados, com o desenvolvimento de softwares adequados às necessidades da empresa. Depois que o cliente faz o pedido pela internet, a linha de produção prepara o arranjo e uma das cinco transportadoras parceiras da Giuliana Flores retira o produto. O prazo máximo entre a saída da mercadoria e a entrega é de 24 horas. "Trabalhamos com esse limite para manter a qualidade do produto." Além disso, assim que um pedido é entregue, a central telefônica da empresa informa ao cliente quem recebeu a encomenda. "As pessoas ficam ansiosas para saber se as flores foram entregues. Encontramos um jeito de resolver a situação."

Sempre procurando aperfeiçoar o negócio, Souza começou, há quatro anos, a firmar parcerias para agregar valor aos seus produtos. Hoje, junto com as flores, o cliente pode presentear a pessoa querida com bombons, vinhos e bichinhos de pelúcia, entre outros itens. São mais de 40 marcas oferecidas no site da empresa - Kopenhagen, Havanna, Salton, Amor aos Pedaços -, sempre vendidas junto com os arranjos. "Flores e chocolate combinam perfeitamente na hora de presentear", diz Laury Roman, diretor comercial da Ofner, uma das empresas parceiras. "O público da Giuliana é muito similar ao nosso e a oferta de produtos da Ofner no site deles funciona como um reforço da nossa marca." O site da Giuliana também é uma forma de fazer com que a Ofner, confeitaria com 17 lojas em São Paulo, chegue além da capital paulista. "Eles sabem entregar itens delicados com qualidade em diversos estados brasileiros. Então por que não usufruir dessa logística?", analisa Roman.

Atualmente, a Giuliana Flores entrega as encomendas em 1.100 cidades do país e tem, em sua base de dados, mais de 230 mil pessoas cadastradas. Por dia, segundo Souza, a floricultura virtual recebe cerca de 500 pedidos. Em épocas fortes para o setor, como o Dia das Mães e o dos Namorados, o número de encomendas chega a 5 mil pedidos diários. Nos períodos de pico, com os trabalhadores temporários, a quantidade de funcionários dobra.

A loja da Giuliana Flores em São Caetano do Sul foi o começo de tudo e é mantida até os dias atuais. O grupo é formado por três lojas físicas - todas na região do ABC paulista - e três virtuais: a Giuliana Flores, voltada para as classes A e B, a Nova Flor, direcionada à classe C, e a Cestas Michelli, que entrega cestas de café da manhã. A internet representa 90% do faturamento do grupo e o carro-chefe é a Giuliana Flores, responsável por 60% dos ingressos. Segundo o instituto de pesquisa e-Bit, o comércio de flores movimenta 1% do varejo eletrônico no Brasil. Neste ano, a estimativa é que o setor fature R$ 100 milhões. Só o grupo Giuliana Flores deve representar 15% desse total. O negócio prospera. Mas que fim levou a ex-futura sogra que bancou o investimento inicial? Depois que terminou com a namorada - seis anos após a abertura da empresa -, Souza comprou a participação dela por R$ 80 mil, pagos metade à vista e o restante em dez parcelas. A quem interessar, ele hoje está muito bem casado.

Por: Adriana Fonseca - PEGN On Line

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