quinta-feira, 9 de julho de 2009

Desconstruindo o Simplismo

Ainda não li o livro mas, pelo visto-(pelo que li em releases e entrevistas)- o último de Jim Collins ,que explica por que grandes empresas fracassam, será outro super best seller internacional ruim.

Ruim para quem quer entender as relações de causa e efeito que existem em gestão, gente que, admito ,representa uma minoria ínfima dos consumidores de livros e palestras de gurus.Quem se interesa por gestão tem que querer entender relações de causa e efeito. Essas relações têm que existir, se não, gestão será tão inútil quanto ler o futuro em cartas de Tarô. O que sustento é que Collins e seus pares não contribuem para nada que nos leve a vislumbrar quais seriam essas relações, apesar de quererem fazer crer no contrário.

O livro, como os seus anteriores, deve ser bem escrito e trará histórias bacanas, por isso será um prazer ler. Além disso, suas conclusões vão coincidir com coisas em que nós gostamos de acreditar. Lembre-se:é humano “crer na crença” (posts anteriores), o contrário é que é difícil. Por exemplo:líderes humildes e determinados (”nível 5″) são mais eficientes que os não humildes,-um achado do livro anterior de Collins (suas “pesquisas” provaram isso).

Legal, né? Foi isso que aprendemos em casa. Tem uma conotação assim-como direi?-”do bem“. O Papa adoraria. Minha avó concordaria. Todos os políticamente corretos do “planeta” assumiriam de bom grado. Só que não não pode ser verdade (em geral, só em casos particulares).

Quando confrontado com casos como os dos ultra-(hiper) arrogantes Steve Jobs e Jack Welch- dois líderes inconstestáveis- a explicação é uma piada.

Quando se pergunta a Collins como é possível que a Fanny Mae (quebrada na atual crise) tenha sido apontada como uma de suas “great”, a resposta é: “ela tornou-se arrogante”.

E a Circuit City,também quebrada e também um dos exemplos a imitar?”Essa também tornou-se arrogante”.

Assim até eu, né?Está se dando bem? Então é ”great.Foi feita para durar“. Se ferrou?”Ah…é porque tornou-se arrogante.”

Esse negócio de “arrogante” não é explicação geral para nada em gestão. O caso mais emblemático -o da derrocada da IBM no final dos anos 80-normalmente é explicado como arrogância, mas não foi.

Peter Drucker, num artigo memorável, mostrou que poucas empresas teriam sido tão humildes como a grande IBM foi ao ver o PC nascendo. Ela, que era líder absoluta de mercado, produzindo computadores grandes(mainframes) embarcou 100% na inovação PC. Constituiu duas divisões independentes para tratar dela (com outros modelos de negócio, em lugares bem longe da sede,com autonomia total). Foi líder em PCs por um tempo, até que não deu mais.

É uma grande história, que nada tem a ver com arrogância ou outros pecados “religiosos” que normalmente se atribuem às grandes corporações. A IBM quase quebrou, mas recuperou-se brilhantemente e ,5 anos depois, estava de volta ao jogo. Como isso foi possível? Ora, “ela tornou-se humilde de novo“. Brincadeira, né?

Quando você começa a buscar as relações de causa e efeito a que me referi, descobre o seguinte:não há em gestão,como não há em nenhuma disciplina séria, regras gerais que valham em todas as circunstâncias.

Por exemplo,as seguintes afirmações são, em geral, falsas:
- o verdadeiro líder é um servidor de seus colaboradores.
-as empresas devem se reinventar constantemente se quiserem sobreviver.
-as empresas devem se ater àquelas coisas que fazem bem,nunca se aventurar para fora de sua competâncias centrais.
-os CEOs das empresas devem sempre ser sempre escolhidos entre os funcionários de carreira ,não devem ser outsiders.
-as empresas nunca devem deixar de ouvir seus clientes para projetar suas inovações.
-empresas familiares sempre têm performances piores do que as “abertas”.
-empresas nunca devem terceirizar seus processos mais importantes como vendas e TI
...

Eu poderia escrever dezenas de afirmações falsas (em geral) como essas.
Se me perguntassem se concordo com as afirmações acima, eu começaria todas as respostas com:”depende…”.As respostas poderiam ser meio chatas,mas seriam mais rigorosas.

Por: Clemente - Época Negócios

Nenhum comentário: