quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Apple só está viva porque morreu

Então, o que a história mostra é o seguinte: inovação (riqueza nova) não vem de empresas com performances “crista da onda”, vem da coleção ,sempre renovada, de empresas (modelos de negócio) competindo . É o mercado que inova, não são empresas individuais.

Este é um insight fundamental que está muito bem documentado mas para o qual pouca gente dá bola.Você pergunta: mas, e uma empresa como a GE, com mais de 100 anos de janela? Eu digo:a GE é o nome de um portfólio de negócios independentes, e esse portfólio tem mudado e mudado e mudado. Só o nome dura. Veja o que Jack Welch fez lá. Essencialmente, ele introduziu mecanismos de gestão para maximizar o resultado da coleção de negócios GE. Podou tudo o que não contribuia. Era agressivo, mal educado e até truculento com qualquer gestor que tentasse privilegiar sua unidade de negócio em detrimento do todo (chame o “todo” de “mercado GE” se você quiser).

A Apple, que em 1995 estava quebrada e hoje é considerada a mais inovadora empresa do mundo, muda e mudou e mudou. Seu valor hoje vem de produtos e processos inexistentes há 10 anos. Seu modelo de negócios é outro. Mudou até o nome , tirou o “Computer“, e ficou só “Apple”-um sinal de que iria se meter em coisas não “computer” como música, telecom e outras. A Apple do início dos anos 90 morreu, se não no nome, na alma. Ela só está viva porque morreu.

A gurulândia dá entender que se todos fosse “não arrogantes,” ou se os líderes fossem mais “servidores nível5″, ou se tivessem ficado “no que conhecem”, ou “ouvido mais seus clientes” ou qualquer outro mandamento bôbo desses, não fracassariam. Lorota. Numa coleção de empresas competindo, alguém vai perder independentemente dosatributos que possa ter.Quem vai ganhar no longo prazo é o mercado. Empresas individuais só ganham no curto prazo.

Para Schumpeter,inovação é a substituição de formas antigas por formas novas. Produtos novos, processos novos, modelos de negócio novos. Essa substituição é permanente, é parte da dinâmica capitalista, e ele a chamou de“destruição criativa”- expressão que todo mundo usa sem entender que se refere ao estrago que os empreendedores inflingem às empresas estabelecidas, não ao que as empresas estabelecidas fazem com elas mesmas.Empresas estabelecidas tendem a ser molengas por razões “computacionais” (ver post anterior). Esse papo de “reinvenção permanente” de empresas é só isso mesmo, papo. É muito raro. Para acontecer,exige um tipo de líder “nada servidor”, como Jack Welch.

A dinâmica -turbulenta, instável-de substituição do velho pelo novo, é o que define a personalidade e a alma do capitalismo de livre mercado. Só pode ser suprimida se se reprimem as liberdades para empreender. Só se se enjaular a liberdade individual. Sem “destruição criativa” não se gera riqueza.


Os agentes da inovação são os empreendedores. Empreendedores são indivíduos (são pessoas, não são instituições, nem governos, nem partidos) que são movidos “pelo sonho e pela vontade de fundar um reino particular”.

Por causa da “destruição criativa” homens de negócios prósperos pisam num terreno que está permanentemente se “esfarelando em baixo de seus pés”. A instabilidade, o não equilíbrio, a desigualdade e a turbulência, na visão de Schumpeter, são inevitáveis- são o preço a pagar pelo progresso.

A melhor maneira de administrar empresas (não todas, só a partir de certo estágio de sua maturação), é embutido nelas a forma pela qual os mercados funcionam. É promovendo a “destruição criativa” dentro delas. Matando ou vendendo negócios ou atividades que estejam “andando de lado” ou decadentes e introduzindo novos. Transformado a empresa em um portfólio de atividades que competirão entre si pelos recursos da corporação como um todo.

As que geram mais valor e tem perspectivas de continuar gerando, ficam. As outras devem ser vendidas ou fechadas.

Por: Clemente -Época Negócios

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