domingo, 8 de novembro de 2009

“Nosso foco é a inovação científica”

Em entrevista à Época NEGÓCIOS, Tadeu Alves, presidente da MSD, empresa resultante da fusão da Merck com a Schering-Plough, diz que os genéricos estão fora dos planos da companhia

“O foco principal da MSD está em inovação científica e não em genéricos, que são commodities. Sendo muito sincero, nós não somos bons nisso". A declaração é Tadeu Alves, 53 anos, presidente da MSD, empresa resultante da fusão das farmacêuticas Merck e Schering-Plough. A partir desta quarta-feira (04/11), as duas companhias passam a operar como uma única empresa.

Com a fusão, o Brasil passa a integrar o grupo de mercados emergentes da nova companhia, ao lado de países como China, Índia e outros. No comando da unidade brasileira ficará Alves, que era o presidente da América Latina para a Merck Sharp & Dohme. Em entrevista à Época NEGÓCIOS ele fala das estratégias de crescimento da nova empresa farmacêutica e da participação do mercado brasileiro nos planos da MSD de alcançar a liderança entre as empresas de pesquisa e desenvolvimento.

Época NEGÓCIOS - Qual a importância do mercado brasileiro para a MSD?
O Brasil é um país que tem um crescimento marcante, juntamente com China e Índia. O mercado farmacêutico segue esse movimento e, em função disso, reorganizamos a estrutura da empresa mundialmente. A partir de hoje, o Brasil passou a ser uma espécie de cluster e não faz mais parte da América Latina. O mesmo ocorreu com a China. São países que acreditamos e têm uma posição privilegiada e com consumo interno interessante.

EN - A fusão com Schering-Plough ampliou as oportunidades?
Mais da metade do faturamento da Merck vem dos Estados Unidos, enquanto a Schering tem uma presença internacional muito mais forte, com 70% de sua receita concentrada no exterior. Com a fusão, teremos uma empresa com uma atuação mais global e com competências complementares. E o Brasil terá um papel importante para essa atuação.

EN – De que forma que o mercado brasileiro irá atuar? Há previsão de se investir mais na inovação científica local, na área de pesquisa clínica e desenvolvimento de novas drogas?
As duas empresas investem US$ 14 milhões em estudos clínicos por ano no Brasil. Existe quase 400 locais de estudos em desenvolvimento. Há uma preocupação constante em desenvolver e lançar produtos no país com estudos feitos localmente, voltados às necessidades dos brasileiros.

EN – Os genéricos já representam 18% do mercado brasileiro de medicamentos. A MSD deve investir nesse mercado?
Não, definitivamente não. Essa é uma área que já estudamos. Mas, preferimos continuar a investir em nossa área de competência. Genérico é um segmento do mercado, é commodity. O foco principal da MSD é inovação científica e não genéricos, que são commodities. Sendo muito sincero, nós não somos bons nisso. Estamos mais dirigidos para a ciência.

EN - A Merck se uniu a Schering, a Medley se uniu à Sanofi-Aventis e a Pfizer e a Wyeth também se fundiram. Como o senhor avalia essa concentração no setor farmacêutico?
A união é positiva. Antes, o Brasil, era o 12o. mercado da Merck. Com a fusão, temos potencial para que chegue a sexta posição. E para isso, devemos apostar em produtos que venham preencher necessidades médicas ainda não preenchidas. O Brasil também está num bom momento. Tem mais pacientes consumindo medicamentos, o que não significa que eles estejam mais doentes. Apenas mostra que eles têm mais acesso aos medicamentos.

EN - Quais são os ganhos imediatos da MSD com a fusão?
Com a fusão, até 2011, devemos gerar US$ 3,5 bilhões em economia anual com a consolidação de setores como pesquisa, indústria, administração e marketing das duas empresas. E, com isso, podemos crescer no mercado.

EN- Quantas pessoas foram demitidas com a união?
Até agora, não houve nenhuma demissão. É obvio que quando se faz uma grande fusão é natural que isso ocorra, já que há sobreposição de cargos. Para a Schering-Plough a fusão foi excelente, já que os portfólios, a linha de pesquisa e ações são complementares. Acredito que antes de pensar em encontrar essas áreas comuns, que certamente vão trazer alguma economia de escala, vamos perguntar: o que tenho que fazer para continuar crescendo e que tipo de investimento devo fazer. Ninguém que deseja ser o primeiro do mercado, vai fazer isso reduzindo. Claro que vamos ter de fazer ajustes. Mas espero que seja muito pequeno.

EN- O senhor acredita que a empresa deve crescer neste ano? É possível dar uma estimativa?
Devemos crescer na faixa de dois dígitos. Queremos superar a taxa de crescimento do mercado farmacêutico. (No terceiro trimestre de 2009, o mercado cresceu 9,2%).

EN - Qual é o desafio do Brasil no mercado farmacêutico?
Sem dúvida, o acesso aos medicamentos. Há uma parcela que não consegue comprar os medicamentos. Isso melhorou, mas ainda há um grande desafio de fazer com que esses medicamentos inovadores cheguem a essa parcela que não tem acesso. Para isso, estamos fazendo parcerias com outras empresas, com o governo (público-privada) e com médicos.

EN –Quando devem chegar novos produtos com a marca MSD?
No começo do primeiro trimestre de 2010 devemos lançar o redutor de colesterol. Ao longo do próximo ano, outro medicamento para reversão de anestesia, produto para esquizofrenia e para quem sofre bipolaridade. Esse, em particular, é produto com uma necessidade médica importantíssima e não preenchida. Além disso, vamos lançar outros produtos para artrite e para glaucoma. Nos próximos dois anos, lançaremos um produto por trimestre. E isso também inclui a saúde animal, com vacinas.

Por: Viviane Maia - Época Negócios

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