sábado, 28 de novembro de 2009

Elas querem muito mais

Um estudo ouviu 12 mil mulheres nos cinco continentes (entre elas, as brasileiras) para descobrir como vivem, pensam e o que querem. Bons negócios à vista? Cerca de US$ 28 trilhões...


Por Karla Spotorno


Há muito se sabe que as mulheres são as principais decisoras nas escolhas de produtos e marcas domésticas. Um inédito levantamento mundial, que traçou um perfil do gênero em 22 países, agora contabiliza: seu poder de consumo vai aumentar em US$ 8 trilhões nos próximos cinco anos e saltar para US$ 28 trilhões. “A economia feminina terá impacto ainda maior do que o PIB conjunto dos países do Bric”, avalia Michael Silverstein, consultor sênior do Boston Consulting Group (BCG) e coordenador do estudo, ao fazer referência ao bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia e China. Por trás dessas cifras siderais há, entre outras, a previsão de que a força de trabalho feminina crescerá 20% até 2014. Pelo estudo, é possível estabelecer contrastes que emergem do retrato das brasileiras revelado pela pesquisa:

De cada 100 entrevistadas, 91 dizem que ganharão mais dinheiro em cinco anos, ante 71 da média internacional. Educação é a chave para alcançar o sucesso, segundo 87% das brasileiras – índice igualmente superior ao da média mundial (64%).

“As principais diferenças da brasileira de hoje em relação à de três ou quatro décadas atrás são a postura de vencedora e o consequente reforço da autoestima”, afirma a socióloga Clarice Herzog, que desde os anos 70 pesquisa o consumo e o comportamento feminino. “Hoje elas estudam, trabalham e cuidam da família.” As estatísticas oficiais confirmam a dramática transformação: elas formam 43% da população economicamente ativa (gente que está ocupada ou buscando emprego), já são maioria nas universidades (57%) e chefiam 35% das famílias, ou 21,3 milhões de lares, um crescimento de quase 9% em apenas um ano, de acordo com o IBGE.

>>> O preço do avanço é o estresse, como declara mais da metade das brasileiras entrevistadas, em proporção superior à média internacional (49%). “Existe aqui um ponto positivo. No passado isso vinha como lamentação. Hoje é diferente: elas não abrem mão de suas conquistas e seguem com suas multifunções”, diz Clarice.

Para Cecília Russo, sócia-diretora da Troiano Consultoria de Marca e autora de Vida de Equilibrista, a solução virá da maior flexibilidade do mercado de trabalho e da busca de equilíbrio na divisão das tarefas domésticas para amenizar a dupla jornada. Segundo o levantamento, 70% delas ainda continuam a cargo das mulheres ou de suas auxiliares. Tome como exemplo a executiva paulistana Daniela Costa, 31 anos, diretora da CA, do setor de TI, e mãe de trigêmeos de 1 ano. Ausente de casa por 11 horas diárias, ela aplica práticas de gestão empresarial na vida doméstica. Seu time reúne três babás e uma empregada, pouco menos da metade da equipe que coordena na CA. Foram recrutadas entre mais de 50 candidatas. Nas entrevistas, aplicou técnicas de seleção que usa quando tem de contratar alguém para a empresa. “Isso é importante, porque a gente percebe as contradições no discurso dos candidatos”, afirma.

Daniela criou uma espécie de manual de procedimentos e um plano de incentivos. Bem objetiva, a “Cartilha da Dani” estabelece os horários das refeições, do banho e da hora de dormir, além de tarefas rotineiras, como limpeza do uniforme, organização da casa, dos brinquedos, do quarto e das roupas das crianças. “A regra é clara para todas”, diz. Quem supera os resultados, pode receber um bônus em dinheiro ou até um aumento. “Vale a pena pagar mais se a funcionária vai além das expectativas. Sou perfeccionista. Não admito estar no trabalho pensando ou fazendo outras coisas. E não sou do tipo de mãe que liga a cada cinco minutos para saber o que o filho comeu.” Daniela ainda conta com uma grande ajuda do marido, Fábio Costa, gerente financeiro de um laboratório farmacêutico e, também em casa, encarregado do orçamento e das compras de supermercado.


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