O empresário e apresentador Silvio Santos espantou o mercado ao anunciar seu interesse na compra do Ponto Frio, mas a nova orientação do grupo é justamente esta - "sair às compras"
Revista EXAME
Desde que o jovem Senor Abravanel decidiu vender bugigangas no centro do Rio de Janeiro, coisa de 50 anos atrás, o Grupo Silvio Santos (GSS) manteve a mesma estratégia de crescimento - devagar e sempre. Abravanel, o Silvio Santos, foi construindo em torno da rede de televisão SBT negócios a partir do zero. Nessa toada, nasceu seu negócio mais bem-sucedido, o banco Panamericano, que começou como mero instrumento de financiamento dos clientes do Baú da Felicidade e hoje responde por 70% do faturamento de 4,5 bilhões de reais do grupo. Nada menos que 35 empresas foram criadas dessa forma. Pois o ano de 2009 marca a transformação dessa estratégia de décadas. Pela primeira vez em sua história, Silvio decidiu vestir o figurino de comprador de empresas. "A nossa nova orientação é sair às compras", diz Luiz Sebastião Sandoval, presidente do Grupo Silvio Santos há 24 anos. "O crescimento orgânico é mais demorado do que estamos dispostos a esperar."
Revista EXAME
Desde que o jovem Senor Abravanel decidiu vender bugigangas no centro do Rio de Janeiro, coisa de 50 anos atrás, o Grupo Silvio Santos (GSS) manteve a mesma estratégia de crescimento - devagar e sempre. Abravanel, o Silvio Santos, foi construindo em torno da rede de televisão SBT negócios a partir do zero. Nessa toada, nasceu seu negócio mais bem-sucedido, o banco Panamericano, que começou como mero instrumento de financiamento dos clientes do Baú da Felicidade e hoje responde por 70% do faturamento de 4,5 bilhões de reais do grupo. Nada menos que 35 empresas foram criadas dessa forma. Pois o ano de 2009 marca a transformação dessa estratégia de décadas. Pela primeira vez em sua história, Silvio decidiu vestir o figurino de comprador de empresas. "A nossa nova orientação é sair às compras", diz Luiz Sebastião Sandoval, presidente do Grupo Silvio Santos há 24 anos. "O crescimento orgânico é mais demorado do que estamos dispostos a esperar."
O empresário e apresentador deu o pontapé inicial nessa estratégia com pompa e circunstância. Em abril, o Grupo Silvio Santos iniciou negociações para a compra do Ponto Frio, segundo maior varejista de eletroeletrônicos e móveis do Brasil. A rede foi posta à venda por sua controladora, Lily Safra, que contratou o banco de investimento americano Goldman Sachs para assessorá-la. Quando a notícia do leilão começava a circular e todos buscavam nos suspeitos de sempre os prováveis interessados na aquisição - Pão de Açúcar, Casas Bahia, Lojas Americanas e outros -, eis que Silvio Santos envia um comunicado ao "mercado" informando que sua pequena rede de lojas do Baú tem interesse no gigante Ponto Frio. Caso a compra seja concluída, a rede de varejo de Silvio passará das 20 lojas atuais para 478 e seu faturamento subirá de 50 milhões de reais para quase 4,5 bilhões. Ou seja, se for concluída, a aquisição transformará radicalmente o grupo inteiro. O banco Panamericano deve ver sua participação no faturamento do grupo cair dos atuais 70% para 35%. E o SBT poderá deixar de ser, definitivamente, a joia da coroa. A emissora de televisão, que chegou a responder por 50% do faturamento do grupo na década de 90, teria reduzida sua participação a apenas 7,5%.
A divulgação do interesse de Silvio Santos pelo Ponto Frio foi recebida com indisfarçável desdém. Para os mais céticos, o anúncio seria apenas mais uma fanfarronice do apresentador (quem não se lembra da entrevista em que Silvio anunciou a venda do SBT? E da vez em que disse estar à beira da morte?). No caso do Ponto Frio, porém, suas intenções são reais. Segundo EXAME apurou, o GSS contratou o banco americano Bank of America Merrill Lynch para assessorá-lo. Seus rivais no processo, porém, são grupos que atuam há décadas no varejo brasileiro. Entre os mais cotados estão Magazine Luiza, Pão de Açúcar e um consórcio formado pela varejista nordestina Insinuante e a Banking and Trading Group, firma de investimentos de André Esteves. Até o fechamento desta edição, o resultado do leilão ainda não havia sido anunciado.
Mas o que leva Silvio Santos a se interessar por uma aquisição que pode transformar de maneira tão radical um negócio que vem dando certo há 50 anos? Segundo seu braço direito, Luis Sandoval, a resposta está na recente mistura de varejo com serviços financeiros. Para o GSS, o investimento em varejistas tem tudo a ver com o crescimento do banco Panamericano, negócio mais rentável do grupo. Comprando o Ponto Frio, o Panamericano ganharia uma invejável rede de distribuição de produtos financeiros, como crédito consignado, empréstimos pessoais e financiamento de veículos. "Para nós, a rede é mais que um negócio de eletrodomésticos. Também é um canal de venda de serviços financeiros", diz Sandoval. Caso Lily Safra aceite a proposta de Silvio Santos, porém, o banco Panamericano vai levar pelo menos mais dois anos até aproveitar a sinergia entre os negócios. Até o segundo semestre de 2011, o Ponto Frio tem um acordo de exclusividade com o Unibanco no InvestCred, que financia as operações de empréstimos aos clientes da rede. Mesmo que as negociações não levem a lugar algum, Sandoval já aposta num plano B um tanto mais modesto - a compra da rede Dudony, que tem 110 lojas no Paraná e no interior de São Paulo.
Paradoxalmente, a ida às compras surge num momento que, certamente, não é dos melhores para o Grupo Silvio Santos. No final do ano passado, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou o rating da companhia. O motivo para isso foi o impacto da crise financeira global nos fundamentos do grupo, inclusive no Panamericano. E, hoje, um espirro no banco causa um baita resfriado no grupo inteiro. Em 2008, o Panamericano diminuiu em 7% o volume de empréstimos em relação ao ano anterior, após quatro anos consecutivos de crescimento. Para analistas, a dependência excessiva de um negócio com alto grau de volatilidade aumenta os riscos do grupo como um todo. "A diversificação diminui o impacto negativo das crises de cada negócio", diz o executivo Mauro Storino, diretor da Fitch. O problema é que aquisições como as que o GSS pretende fazer custam dinheiro - muito dinheiro. A compra do Ponto Frio custaria cerca de 2 bilhões de reais, valor que as empresas de Silvio Santos não têm. É uma quantia alta mesmo para quem está habituado a jogar para a plateia aviõezinhos feitos com cédulas de 50 reais. Para financiar as aquisições, seria necessário endividar ainda mais o grupo, o que poderia dar origem a dúvidas sobre sua viabilidade financeira. Para a Fitch, Silvio Santos não tem caixa para comprar empresas. E suas intenções, embora racionais, são difíceis de realizar. Só ele, portanto, poderá responder à pergunta - vai comprar ou não vai?
Por Denise Carvalho - Portal Exame
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