Os medicamentos genéricos completam neste ano uma década de comercialização no Brasil. Os dez anos foram suficientes não apenas para eles se consolidarem no mercado, mas também para se tornarem cruciais para o setor farmacêutico.
Com o trunfo de custarem, no mínimo, 35% a menos do que os remédios de referência, os genéricos alcançaram, em abril, 18,6% do mercado farmacêutico do país. Mas as indústrias querem mais. Entre junho de 2007 a 2010, os investimentos previstos para o segmento chegarão a R$ 354 milhões.
A injeção de capital não é gratuita. Nos próximos dois anos, três medicamentos campeões de venda terão suas patentes quebradas, permitindo a produção de genéricos: Viagra (disfunção erétil), Diovan (hipertensão) e Liptor (colesterol). O Liptor, da Pfizer, destinado ao controle do colesterol, é o produto mais vendido pela indústria farmacêutica em todo mundo.
Juntos, os três representam um mercado potencial de R$ 500 milhões por ano. Além deles, outros 14 remédios perderão as patentes até 2011, elevando o potencial de ganho para R$ 750 milhões.
“A expectativa é de que os genéricos atinjam 35% do mercado nacional nos próximos dez anos, caso o ganho de participação continue aumentando 2% a cada ano”, afirma Odnir Finotti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), entidade que representa as empresas responsáveis por 90% da fabricação desse tipo de produto.
O desempenho sempre acima da média do mercado também justifica as cifras milionárias de investimento. Em 2008, enquanto as vendas de genéricos subiram 18,9%, alcançando US$ 2 bilhões (R$ 4,05 bilhões). O restante da indústria teve desempenho mais modesto, crescendo 6,85%.
A diferença de patamar tem sido uma constante nos últimos anos. De 2004 para cá, a expansão dos genéricos foi quatro vezes superior ao total do setor farmacêutico. No primeiro trimestre deste ano, os genéricos cresceram 4,1% em volume, enquanto o conjunto da indústria avançou apenas 1,2%.
“Os genéricos transformaram o panorama da indústria de medicamentos no Brasil. Quem decidiu investir neles desde o início cresceu muito acima da média do mercado”, diz Finotti.
Atualmente, quatro das dez maiores fabricantes farmacêuticas do Brasil produzem genéricos: SEM (1ª), Aché (3ª), Medley (4ª) e Eurofarma (6ª). Os medicamentos foram fundamentais para que pelo menos três delas chegasse à atual posição no ranking. Em 1999, quando os genéricos foram lançados, a EMS, ocupava a 29ª posição no ranking, a Medley, a 32ª, e a Eurofarma, a 28ª.
O espaço para o crescimento dos genéricos ainda é grande no Brasil. Em países desenvolvidos eles já representam mais de metade do mercado. É o caso da Alemanha (60%), Dinamarca (83%), Estados Unidos (60%) e Inglaterra (60%).
A grande vantagem dos medicamentos genéricos é o preço. Por lei, ele tem que ser, obrigatoriamente, pelo menos 35% mais barato do que os de referência. No entanto, a Pró Genéricos alega que, na prática, eles chegam a ser, em média, 50% mais em conta.
Segundo a associação, os genéricos também têm exercido um papel importante como regulador de mercado, aumentando a concorrência e levando à redução do preço dos medicamentos de marca. Levantamento feito pela entidade mostra que medicamentos de referência chegaram a ficar até 60% mais baratos desde o lançamento do primeiro genérico de sua marca.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) partilha da mesma opinião. “A entrada dos medicamentos genéricos no mercado já está consolidada. Ela fez com que o custo dos remédios de referência ficasse menor para o consumidor”, afirma Dirceu Raposo, diretor-presidente da Anvisa.
Criação
Os genéricos são cópias de medicamentos inovadores cujas patentes já expiraram. No Brasil, a regulamentação deste tipo de medicamento ocorreu em 1999. Desde então, foram registradas 14.376 apresentações dos medicamentos, 2.609 registros e 337 princípios ativos. De acordo com o mercado, os genéricos já podem ser usados para o tratamento de 90% das principais doenças existentes.
Por: Elisa Campos (Portal Época Negócios)
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