A troca de comando numa empresa familiar: para evitar dor de cabeça na hora “h” é preciso planejar antes a sucessão. Especialistas em gestão familiar podem orientar e dar dicas de como realizar esse processo sem complicações.
O dono de uma corretora de seguros fez tudo certinho e com calma. Há seis anos, começou a pensar na sucessão da empresa. O projeto dele é passar o comando do negócio para os filhos.
“Pensar na sucessão é trabalhar na continuidade de seu projeto de vida, seu projeto profissional. Quanto mais cedo você pensa, mais qualidade você aporta no processo”, acredita o empresário Eduardo de Souza.
Para o consultor de empresas familiares Pedro Adachi, o melhor caminho é mesmo pensar no assunto enquanto se trabalha na empresa.
“A gente tem sempre que lembrar que a sucessão é a transmissão do comando da empresa. Tem que dissociar isso da morte, a gente tem que planejar quem vai ser a próxima pessoa que vai estar conduzindo os negócios”, observa Pedro.
Definir a sucessão de uma empresa não é algo simples, nem rápido. Em geral é preciso se preparar durante anos. Foi o que fizeram os filhos do fundador. Primeiro eles foram trabalhar fora, em outras empresas, para trazer conhecimento novo para cá.
A filha Camila Souza arrumou emprego numa seguradora. Ela só pretende trabalhar na empresa do pai daqui a cinco anos.
“Eu fui trabalhar em seguradoras ou corretoras de grande porte para ver a forma técnica de trabalho mesmo, para trazer conhecimento para cá”, explica Camila.
O filho Jorge Souza Filho estudou no exterior e trabalhou em outras empresas no Brasil. Em 2008, assumiu a área de planejamento da corretora.
“Tudo que eu aprendi lá eu trouxe para cá, que é estudo de mercado, estudo financeiro das ações da companhia, das ações de marketing, de vendas. Tudo que poderia agregar para a gente neste tipo de área”, admite Jorge. A família ainda enfrentou o desafio de separar o lado pessoal do
profissional. No início, eles misturavam os papeis.
“Eu entrava na sala do meu pai, parecia que estava entrando na sala de casa. Eu via um olhar estranho, achava rejeição. Eu pensava: ‘meu pai não gosta do que eu faço’. Ficava triste, ficava de bico em casa, era um comportamento mais ou menos assim: confundia muito”, explica Juliana Souza, que também é filha do empresário.
Com tempo e muito treinamento, fundador e sucessores venceram as dificuldades. Hoje, o que manda aqui não é o parentesco, mas o mérito. “Quando você tem família e sociedade comercial, duas instituições para gerenciar, se você não souber definir muito bem o papel de cada uma, as duas vão quebrar”, admite Jorge.
O fundador pretende deixar a presidência da empresa em cinco anos. Mas vai continuar no negócio, como conselheiro.
“Perder toda essa bagagem, essa experiência é um desperdício. Ele é importante tanto para o
papel do sucessor dar certo, como para a continuidade do negócio”, afirma Pedro.
“Se o negócio deu certo, está dando, é graças a ele. Então, seria muito importante para a gente ter ele sempre presente”, avisa Camila. “Com o apoio dos meus irmãos e com a equipe que a gente tem, especializada, que está há muito tempo na companhia, estamos preparados para assumir essa sucessão”, explica Jorge Filho.
Mas,às vezes não há preparo que faça a sucessão familiar deslanchar. O dono de uma oficina mecânica bem que tentou, mas não teve jeito. Luiz Francisco Baptista é um apaixonado pelo que faz. Ele montou uma oficina de restauração de carros antigos em 1975. Desde então, só tirou férias uma vez, durante a lua-de-mel. Mas não aguentou a saudade da oficina, e voltou mais cedo.
“Viajei com minha esposa e fiquei uma semana. Aí, não aguentei mais, eu estou com vontade de voltar. Ela concordou e fiquei com saudade da oficina, ela dos pais, então resolvemos voltar, de comum acordo”, recorda Luiz Francisco.
Enquanto cuidava com tanto carinho do negócio, o empresário tinha um sonho: que o filho Luiz Fernando Baptista, que é piloto de corrida, assumisse um dia a empresa. Aos 19 anos, ele veio trabalhar com o pai. Mas aí os conflitos começaram.
O filho queria modernizar a oficina. Comprar equipamentos novos, fazer planejamento estratégico, informatizar. Já o pai continuava no ritmo dele. Arquivava os dados em fichas de papel, preenchia a mão a ordem de serviço... Até o tipo de telefone dava briga.
“Tinha duas linhas de telefone na mesa dele, eu botei um telefone sem fio com duas linhas, e quando ele voltou, olhou para o telefone e disse: ‘o que é isso’? Eu falei: ‘é um telefone, tem duas linhas, tudo”. Ele retrucou: ‘Mas como funciona?’. Eu afirmei: ‘É fácil’, e expliquei tudo. Ele disse que o telefone não prestava! E mandou comprar aquele telefone de disco”, lembra Luiz Fernando.
Depois de oito anos tentando trabalhar juntos, pai e filho só acharam um caminho: ir cada um para o seu lado. O pai continuou na empresa dele, e o filho abriu outra oficina, a dois quarteirões daqui. Em vez de sucessão, a saída foi – separação! trabalho foi dividido. Enquanto o pai cuida da mecânica dos carros, o filho faz funilaria, pintura e customização dos veículos. Hoje, um indica clientes para o outro, mas ninguém se mete no negócio alheio.
“Cada um se adapta melhor à sua maneira de trabalhar”, afirma Luiz Francisco. Quanto à sucessão, o filho garante: só assume a empresa quando o pai sair.
“O dia que ele faltar, eu vou ter que assumir a empresa dele e incorporar na minha. Não sei, se Deus quiser, falta bastante tempo!”, diz Luiz Fernando.
“Ainda estou podendo trabalhar, até onde der pretendo continuar”, observa Luiz Francisco.
Por: PEGN On line
Faça seu comentário!
Nenhum comentário:
Postar um comentário