quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O mundo digital é o mundo real

Por: Hélcio Brasileiro*

Inclusão digital é um assunto que tem tudo a ver com você. Com todos os setores econômicos, com a cultura, com a educação, com a ciência, com a arte, com seus amigos, sua família, seus filhos. Não, aqui não tem nenhum exagero. Pra começo de conversa, acredito que todos nós, adultos, nascidos ``analógicos de carteirinha``, estamos vivendo este processo na pele.

Com certeza você já passou por algo similar ao que testemunhei com a minha sobrinha Valentina, logo que ela completou três anos. Ela queria ver um desenho que não estava no ar no momento. Recorri à Internet. Sem ser alfabetizada e sem incentivo específico em casa, já que os pais utilizavam computador apenas no trabalho, Valentina começou a passear com o cursor do mouse na tela. Após alguns minutos de navegação caótica, ela percebeu os caminhos para optar entre os vídeos, jogos, experimentar de maneira intuitiva, com total autonomia, o universo do personagem que ela tanto gostava.

A Valentina não vai passar por esta transição que a gente vive com tantas crises e divagações. Nem os meninos e meninas a quem dei aula em diversos bairros de baixa renda em projetos maravilhosos de pontos de cultura como Encine, Aldeia e TV Janela. Há alguns anos, eles já usavam o celular com uma intimidade mais do que natural. Tiravam fotos, jogavam, baixavam, ouviam e trocavam músicas via bluetooth. Imagine o que pode acontecer se a TV digital atingir os níveis de interatividade que todos sonhamos.

Conectados
Sendo nativos digitais ou não, estamos cada vez mais conectados. Tente lembrar de alguém que você conheça que não tenha celular. O mundo digital é o mundo real. As crianças de hoje, quando crescerem, não perceberão esta diferença tão evidente para nossos olhos. E, por incrível que pareça, o mais importante disso tudo somos nós, são as pessoas. Inovações tecnológicas vemos todos os dias. Coisas fantásticas, inacreditáveis - até a próxima novidade. Tudo isso, no entanto, pouco serve senão é utilizado por nós. A revolução mais difícil, porém inevitável, é a adequação de governos, empresas, instituições, sistemas políticos, de cada um de nós, a uma comunicação horizontalizada e multilateral.

Quando se trata de inclusão digital como preocupação social, devemos considerar que esta inclusão vai muito além de dar acesso às máquinas com conexão de banda larga. Estamos vivenciando uma nova forma de nos relacionar, uma cultura da participação. Relevância hoje em dia é muito mais do que um cargo corporativo ou um título acadêmico. Ela pode ser alcançada na rotina a partir do reconhecimento de um grupo reunido por interesses comuns. Por redes sociais espontâneas que superam limites geográficos.

Em Fortaleza temos blogueiros sendo pagos para produzir conteúdo para empresas estrangeiras, outros assediados como mídia por megacorporações multinacionais, temos desenvolvedores trabalhando em parceria com gente do outro lado do mundo. As oportunidades de negócio em todos os setores são vastas. Nada disso é previsão de futuro ou utopia. Está acontecendo agora.

Para inserir, como se propõe a inclusão digital, é imprescindível a capacitação de professores, do investimento em educação, que alunos se reconheçam criticamente dentro de seu próprio contexto, vislumbrem transformações, e como podem conseguir um protagonismo real dentro de uma sociedade em rede: seja pelo seu conhecimento, por sua arte, por algo que produza, pelo próprio merecimento.

* HÉLCIO BRASILEIRO é jornalista e integrante do Conselho Consultivo de Leitores do O POVO.

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