quinta-feira, 29 de abril de 2010

BB-Bradesco: aliança pontual ou prenúncio de fusão?

A união de forças entre o gigante estatal e o ex-primeiro colocado entre as instituições privadas nacionais é uma resposta à fusão do Itaú com o Unibanco, que deu origem ao novo líder do setor.

Por Alexandre Teixeira

Há tempos ouviam-se rumores sobre uma fusão entre Banco do Brasil e Bradesco. Com a notícia de terça-feira sobre a parceria entre os bancos para lançar uma alternativa brasileira a Visa e Mastercard, há duas interpretações possíveis. A união do Bradesco com o BB nos cartões é o prenúncio da fusão que o “mercado” vinha profetizando. Ou as próprias reuniões entre executivos das duas instituições para costurar a criação da bandeira Elo é que levaram observadores apressados a concluir que uma fusão estava sendo gestada.

Nada no discurso dos dois bancos autoriza a primeira conclusão. É evidente, porém, que a união de forças entre o gigante estatal e o ex-primeiro colocado entre as instituições privadas nacionais é uma resposta à fusão do Itaú com o Unibanco, que deu origem ao novo líder do setor. E, do mesmo modo, à incorporação do Real pelo Santander, que criou um concorrente multinacional poderoso.

Não por acaso, a aliança entre BB e Bradesco começa com o lançamento de um cartão voltado para o consumidor de baixa renda. Mais populares entre os bancões de varejo do país, com as redes de agências mais capilarizadas pelo território nacional, as duas instituições apostam justamente nos milhões de brasileiros emergentes, que entram agora no mercado de consumo, para reforçar suas posições e brigar pela liderança setorial.

Mas e as culturas dos dois bancos? São compatíveis? Sim e não, pelo menos à primeira vista. Ambas as instituições valorizam carreiras fechadas. Para começar, recrutam seus funcionários ainda muito jovens. No BB, por meio de um dos concursos públicos mais cobiçados do país. No Bradesco, dando aos estudantes carentes da fundação mantida pelo banco e a outros de origem igualmente humilde a chance de entrar no banco nas posições menos graduadas. Nas duas casas, oportunidades vão sendo oferecidas a funcionários que se destacam: gerente de posto bancário, de agências no interior, nas capitais, regionais, diretores e, sim, presidentes. Tanto Aldemir Bendini, CEO do BB, como Luiz Carlos Trabuco, seu par no Bradesco, são “prata da casa”, com décadas de experiência nos respectivos bancos.

As culturas são semelhantes, também, no que diz respeito ao culto à simplicidade, que se manifesta nas instalações espartanas dos dois bancos e na ausência de pretensões intelectuais declaradas entre seus principais executivos. Nesse sentido, Bradesco e BB são a antítese mais que perfeita dos agora unidos Itaú e Unibanco.

Mas há um senão relevante na questão cultural. O Banco do Brasil é um banco público. Ou, mais precisamente, uma entidade de capital misto, controlada pelo Estado, mas com ações negociadas na bolsa. A estabilidade no emprego lá é garantida por lei. O futuro depois da aposentadoria, pela poderosa Previ, maior das fundações previdenciárias fechadas do país. A ligação com o Sindicato dos Bancários, praticamente umbilical.

Em oposição a isso, o Bradesco é um banco de dono. Ou, mais precisamente, um grupo com controle acionário privado, mas não propriamente familiar, com ações negociadas na Bovespa e status de blue chips brasileiras. Os valores cultivados na Cidade de Deus – o enclave corporativo com os vários edifícios-sede do banco dentro do município de Osasco, na Grande São Paulo – são basicamente os legados pelo fundador, Amador Aguiar. Seu guardião é Lázaro Brandão, um presidente de conselho sui generis, que ocupa uma mesa ao lado da do CEO, dá (longo) expediente todo dia, puxa a fila do almoço pontualmente ao meio-dia – e, não por acaso, estava presente na coletiva de apresentação da bandeira Elo, como, de resto, em todos os momentos marcantes da trajetória do banco em décadas.

Lázaro, Trabuco e os demais altos executivos do banco são ciosos da tradição que representam. A ética protestante de Aguiar – o nome Cidade de Deus não foi escolhido por acaso e os conhecidos cultos de Ação de Graças na sede são só a parte mais visível dessa mística – é a do “no pain, no gain”, isto é, sem sacrifício não há recompensa. Eles se orgulham de começar o dia de trabalho enquanto a concorrência ainda está saindo da cama. Reuniões às 7 horas da manhã são rotineiras. O ambiente é formal, os móveis são de madeira escura e pesada. Terno e gravata são indispensáveis.

Como tudo isso sobreviveria a uma fusão com um banco estatal com sede em Brasília? Difícil dizer, mas, se a parceria para operar cartões de crédito for apenas o noivado, vai ser interessante descobrir na prática.

Um comentário:

Lucas Gonçalves disse...

Olá Léo, acesse http://vivendoideais.blogspot.com/

Muito bom o seu blog