terça-feira, 27 de outubro de 2009

‘Novo real’ é chamado à atualização

A atual valorização do real, frente ao dólar, só é ruim para os exportadores de setores que não se atualizam. Essa é a visão do economista Marcos Alves, com relação ao atual fôlego que a moeda brasileira vem demonstrando, após uma valorização de mais de 30% em relação ao dólar desde o início de 2009. A cotação da moeda americana passou de quase R$ 2,30 em janeiro passado, para cerca de R$ 1,70 atualmente.

Para o economista, o real forte é a prova do aumento da confiança que os investidores dos demais países têm depositado na economia brasileira. “Quando o mercado começa a confiar no governo, naturalmente a moeda do país se fortalece e é o que está ocorrendo hoje no Brasil. O nível de confiabilidade aumentou muito, porque o país tem praticado fundamentos como manter uma macroeconomia previsível, uma moeda estável, respeito aos contratos e investimento em educação”, explica.

Mas a valorização da nossa moeda não traz mudanças apenas para os empresários ligados ao comércio exterior. Para o mercado interno, o real forte é vantajoso, porque o salário do trabalhador fica protegido, seu poder de compra aumenta e, consequentemente, o consumo se eleva, o que ajuda a combater a inflação. “O dólar como está hoje estimula o consumo, o salário dos trabalhadores se valoriza e a classe média pula de alegria, porque pode ir para o exterior se divertir”, diz.

A mesma análise é feita pelo coordenador de desenvolvimento comercial da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Otomar Lopes. “O dólar baixo pode ser considerado negativo para as exportações, de forma geral. Mas temos que lembrar que alguns setores da economia podem se beneficiar muito com o quadro atual”, avalia.

Lopes ressalta que esta pode ser uma boa oportunidade para quem lida com importações ou está necessitando investir em máquinas. Ele cita como exemplos de setores que podem se beneficiar, a área têxtil e de confecções, renovando o parque industrial, e o setor médico hospitalar, ao adquirir aparelhos de última geração. “Como os preços desses produtos são estabelecidos em dólar, comprar quando a cotação está baixa é vantajoso”, afirma.

Por outro lado, esclarece Otomar, setores que têm grande parte da produção voltada para o mercado externo podem ter que se adaptar à nova realidade. Dentre os principais atingidos no estado, ele aponta fruticultura, carcinicultura e balas e confeitaria. “A fruticultura sofre por boa parte dos insumos ser comprada em real e, com o dólar em baixa, a receita dos produtores diminui. Enquanto o setor de balas e confeitaria concorre com grandes empresas internacionais e uma variação de 2% a 5% no preço já faz muita diferença”, avalia.

O coordenador da Sedec classifica a carcinicultura como um caso particular, por ser um setor que acompanhou as mudanças sofridas pelo mercado. Otomar lembra que no final da década de 90, a produção era praticamente toda voltada para a exportação e, ao longo do tempo, os empresários foram passando a atingir também a uma fatia do mercado interno. “Para a fruticultura, talvez o melhor caminho seja seguir os passos dos carcinicultores”, sugere.

Otomar Lopes finaliza destacando que existe a possibilidade de o atual quadro da economia ser temporário e, caso o dólar volte a subir, as exportações podem ser facilmente retomadas. “De estrutura para isso, os empresários já dispõem”, conclui.

Carcinicultores buscam alternativas para vender

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Carlos Bezerra, afirma que a carcinicultura potiguar não tem sentido muito os efeitos negativos da baixa na cotação do dólar, por estar conseguindo alternativas capazes de aumentar o consumo interno do crustáceo. “A cotação baixa do dólar é negativa para o agronegócio, entretanto na carcinicultura não tem gerado muito prejuízo, uma vez que conseguimos atingir os mercados externo e interno”, diz.

De acordo com Bezerra, atualmente os empresários estão analisando maneiras de fazer com que a maior parte do produto não seja mais exportado in natura. “Não sabemos se o camarão cozido, na forma de patê ou alguma outra opção. Mas o certo é que faremos algo para aumentar o valor agregado do nosso produto”, completa o diretor da ABCC. Enquanto os exportadores procuram formas de driblar a redução do dólar, para os empresários que importam mercadorias, o momento é favorável, como revela o diretor da Miami Imports, Aristeu Costa.

O diretor da loja afirma que o atual cenário econômico permite a compra de produtos por preços mais baixos e o mercado tem forçado uma redução no valor de boa parte dos produtos, também para o consumidor. “Um notebook que era vendido por R$ 1.599 há três meses, hoje está por R$ 1.299”, exemplifica.

Por: Sílvia Ribeiro Dantas

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