quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um tipo de líder para cada projeto

Não existe um só líder da inovação. O que há são capacidades diferenciadas para cada tipo de desafio.

Imagine a cena. Na sala de reuniões, o CEO entrevista – um a um – executivos que se candidataram a uma cobiçada vaga num projeto estratégico. Os currículos são impecáveis. O histórico dos entrevistados é reluzente. Entre um café com adoçante e outro, o presidente ouve dos candidatos casos de sucesso que combinam criatividade e disciplina no lançamento de novos produtos, aceitação de riscos e expectativa de aprender com o fracasso, ótima condução de equipes, retenção de talentos e, por fim, paixão pela missão e pelo negócio. Todos os candidatos parecem perfeitos. Porém, o CEO ainda está desconfiado. Intuitivamente, sabe que o novo projeto – uma verdadeira joia lucrativa para o grupo – pede características pessoais diferenciadas do futuro diretor ou diretora. As entrevistas seguem. E a incerteza também.

O hipotético CEO seria uma alma gêmea do professor Jean-Philippe Deschamps, da escola de negócios IMD, de Lausanne, Suíça. Deschamps, autor de diversos clássicos dos negócios, como Produtos Irresistíveis (1996), tem estudado no último decênio a liderança voltada para a inovação. É o tema de que vai tratar, neste mês de setembro, no seminário Driving Strategic Innovation, do MIT. Sua conclusão: não existe um perfil único de líder que se encaixe a todas as facetas da inovação – seja ela uma nova categoria de produto, modelo de negócios, soluções de serviços ou melhorias técnicas. Existem qualidades distintas e específicas do líder que se aplicam melhor a esta ou àquela disciplina do processo. É uma questão, enfim, de vocação. A chave para descobri-la é o processo em si. Exemplos ajudam a esclarecer a tese de Deschamps:

Visionário - Também chamado pelo professor de “campeão da inovação”, encaixa-se como uma luva para o desafio mercadológico do tipo mais raro: a criação de uma nova categoria de produto ou serviço. Exemplo de líder visionário, segundo Deschamps, é Lewis Lehr , ex-presidente da 3M, que costumava dizer “eu sigo aqueles que, na empresa, perseguem os sonhos”. Sem esta liderança, inovações radicais, como a criação do post-it na 3M, ou das embalagens de celulose para enlatados da Tetra Pak, correriam sério risco de emperrar.

Arquiteto - Um tipo analítico e pragmático. É o ideal para a implementação de novos modelos de negócio ou novos sistemas que alteram o modelo antigo. Assim como o visionário, uma de suas características é possuir a concepção global do objetivo a ser alcançado, porém com atenção às minúcias da execução. Um exemplo é Ray Webster, o CEO da EasyJet entre 1995 e 2005, um dos arquitetos do modelo de sucesso de companhia aérea de baixo custo.

Conector - É a personalidade ideal para liderar projetos de soluções ao cliente, que normalmente envolvem diferentes departamentos da empresa, fornecedores e usuários. Este tipo combina maleabilidade na negociação com rigor de execução. “Conectores” estavam por trás da bem-sucedida reestruturação da IBM, convertida em provedora com soluções customizadas de serviços. “Devem combinar carisma com capacidade de orquestração”, diz Deschamps.

Treinador - O treinador “raçudo”, como Felipão, é perfeito para o tipo mais comum de inovação, a incremental, que visa aperfeiçoamentos em produtos e serviços. É um mestre de execução sincronizada e veloz, pois a rapidez para aterrissar nas prateleiras é vital, nesse caso. “É um líder que deve combinar as qualidades dos treinadores do esporte. É durão e exigente, mas também uma mãe na hora certa, dando todo o apoio à equipe”, conclui Deschamps.

Lewis Lehr – Nascido em 1921, entrou para a história dos negócios em 1981 como presidente da 3M. Era também um frasista brilhante. Uma de sua máximas: “Não existe um único negócio para o qual a gente não deva inventar uma nova tecnologia”

Por: Álvaro Oppermann - Época Negócios

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