terça-feira, 16 de novembro de 2010

Incubadoras ajudam a lançar novos negócios; saiba como funcionam

Ser empreendedor é essencial para esse tipo de negócio, diz especialista.
Empresas costumam fazer parcerias governamentais e com universidades.

Ajudar um empreendimento inovador a entrar no mercado de maneira mais madura e competitiva é o principal objetivo das chamadas incubadoras de empresas. Para isso, esses centros de negócios apostam principalmente na capacitação dos futuros empreendedores, na articulação de políticas públicas e na geração e disseminação de conhecimento.

“A missão central é apoiar o nascimento e o fortalecimento de negócios inovadores”, diz Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

“Para ter sucesso, para ajudar que empresas inovadoras cheguem cada vez mais ao mercado, é preciso de todo apoio que ela [incubadora] dá na área de aconselhamento técnico, captação de recursos, gestão de negócios, redução de riscos, além de acompanhar o amadurecimento da empresa como negócio, para que vá ao mercado lidar com suas concorrentes de maneira competitiva.”

Para ingressar no mundo dos negócios via incubadoras, tão importante quanto ter uma ideia inovadora é ter espírito empreendedor. “Às vezes é alguém muito bom tecnicamente, mas não é empreendedor. No processo de apoio inicial, ela se preocupa também em capacitar o empreendedor a bolar um bom plano de negócio”, destaca Francilene.

As incubadoras de negócios normalmente mantêm estreita relação com o meio acadêmico. “A maior parte das incubadoras de base tecnológica ou tem parceria com instituições acadêmicas ou tem algum tipo de mecanismo que a relacione com a Academia”, diz a vice-presidente da Anprotec.

“Existem incubadoras mais sociais, mas que também atuam se apropriando de conhecimento. É uma inovação que não é de ruptura, de quebra, mas que vai causar algum impacto de natureza. Quando insere design num trabalho de artesanato no Cariri para fazer melhor manejo do sisal é um conhecimento que está aplicando. Pode não ser altamente intenso em termos de tecnologia, mas mesmo as incubadoras de cunho mais social têm que ter lucro e precisam de inovação”, lembra Francilene.

Outras parcerias
Para atuarem de maneira mais efetiva, as incubadoras também estabelecem parcerias governamentais e empresariais. A Anprotec conta atualmente com 272 entidades associadas que representam cerca de 400 incubadoras de empresas e 6.300 empreendimentos.

Apesar da estreita relação com o meio acadêmico, as incubadoras não se destinam somente a estudantes universitários. “Em princípio, qualquer cidadão que queira empreender pode recorrer a uma incubadora”, diz.

Tecnologia
O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) foi criado há mais de uma década e é, hoje, segundo o diretor, Sérgio Risola, a maior incubadora da América. “Hoje temos 140 empresas incubadas e mais 100 associadas”, diz. O centro apoia empresas nascentes com vocação para tecnologia nas mais diferentes áreas, como medicina, saúde hospitalar, tecnologia da informação e meio ambiente, entre outras.

Para entrar no Cietec, Risola explica que o empreendedor tem que já ter passado a fase de pesquisa, um dos tripés que, ao lado de desenvolvimento e inovação (juntos, formam a sigla PDI), sustenta o projeto de um novo negócio. “O Cietec atua no fim do desenvolvimento para aquela empresa que está com um protótipo bem materializado. Em até um ano e meio tem que estar pondo o pé no mercado”, diz.

“O Cietec tem um balcão que recebe pessoas e tem um site muito ativo. A pessoa pode se inscrever no processo seletivo. Nas primeiras entrevistas a gente sempre bate muito naquelas teclas aparentemente triviais: Você tem experiência no tipo de coisa que quer fazer? Você conhece o mercado em que quer atuar ou está caindo de paraquedas? Você já ficou no comando e foi responsável por algum negócio? Ao comandar pessoas, você percebeu que tem esta competência, as pessoas te respeitam? Você está disposto a trabalhar acima de 12 horas por dia? Você conhece minimamente aspectos fiscais, tributários, marcos regulatórios do país?”, detalha o diretor do centro.

Risola diz que, ao ingressar em uma incubadora de tecnologia, o empreendedor passa a ter mais facilidade de acesso a recursos financeiros. Ainda assim, é importante que o futuro empresário tenha dinheiro para sustentar seu projeto por aproximadamente um ano ,sem contar com a entrada de novos aportes. “A pergunta final é: você quer mesmo fazer isso acima de qualquer coisa na sua vida agora?”, diz.

"Sabatina"
Se o candidato passar desta "sabatina”, o próximo passo é apresentar por escrito a ideia de negócio, explicando qual é o serviço que ele quer oferecer. “A pessoa tem que mostrar como vê o mercado, vai escrever se existe concorrência, o número de sócios que quer ter, em que mercado quer atuar. São as propostas básicas.” Se for pré-aprovado, ingressa então no Cietec para ficar um mês montando o plano de negócio.

Nesta etapa, o futuro empresário vai passar 15 dias em sala de aula e mais 15 dias recebendo consultoria. “Os professores vão dar mecanismos para entender o tamanho do mercado que ele quer atuar. Qual é a meta? Quer ganhar quanto? A gente precisa conhecer o tamanho da cabeça deste empreendedor”, fala Risola.

Depois, o candidato finaliza o plano de negócio que será, posteriormente, avaliado por um comitê de consultores das entidades parceiras do Cietec, como a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), entre outras.

“Os planos são julgados por critérios que nós determinamos, não tem aleatoriedade, subjetividade, é uma análise lógica”, informa o diretor do centro. Ele diz que leva quatro meses para que o interessado receba o veredicto se foi aprovado para entrar na incubadora. “Aí, pega a ‘chavinha’ para ficar de três até quatro anos aqui dentro conosco.”

Sobrevivência

“Temos, de 2002 a 2010, 95 empresas que saíram graduadas para caminhar sozinhas. Quando fizemos o balanço em dezembro de 2009, tínhamos 89 empresas graduadas – 75 estavam vivas no mercado ainda. Isso demonstra como a sobrevivência dessas empresas nascidas neste ambiente vão mais longe”, destaca Risola.

Ele cita ainda dados financeiros, que constam dos indicadores da entidade. O Cietec recebia R$ 1 milhão por ano do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), cerca de R$ 90 mil por mês. “Está nos nossos indicadores, a cada R$ 1,00, a gente devolve R$ 5,80 em imposto das nossas empresas, sem contar o produto e a mão-de-obra. Em 2009, das empresas aqui dentro, um terço delas que já faturavam, faturaram R$ 41 milhões.”

Para concluir, Risola deixa o seguinte recado: “empreendedorismo tem risco, mas quando põe metodologia, diminui muito esses riscos”.

Por: Fabíola Glenia - G1 São Paulo

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