quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Desafios para o gigante decolar

Por: Renata Moura - Jornal Tribuna do Norte

De dentro das indústrias, ou de fazendas do Rio Grande do Norte, toneladas de produtos saem, por mês, direto para a estrada, com destino á exportação. Uma frota com aproximadamente 14 mil caminhões transporta as mercadorias para o destino final ou para portos e aeroportos de onde serão embarcados para outros estados e países. Entregar os produtos ao
s compradores, sobretudo aos que estão no mercado internacional, tem sido, porém, difícil. E oneroso. O problema é que, com infraestrutura local limitada, os exportadores precisam pagar frete e perder tempo no escoamento. Tem sido assim há anos. E, para que haja mudanças, uma série de desafios precisarão ser vencidos pelo novo governo eleito.

O Aeroporto de São Gonçalo, que deverá começar a funcionar em 2013, terá um terminal de cargas com capacidade para movimentar 13.522 toneladas em 2038

Um dos principais desafios está diretamente ligado ao futuro Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante. O empreendimento vem sendo construído há mais de uma década no estado e é visto como potencial impulso à atividade exportadora, entre outras razões, porque abre perspectivas de aterrizarem no estado aeronaves específicas para cargas, o que não ocorre hoje e encarece o transporte dos produtos que seguem para o exterior por via aérea. Sem aeronaves próprias para transportá-los, esses produtos são remetidos para os mercados compradores dentro dos porões das aeronaves que fazem o transporte de passageiros.


A limitação é um empecilho ao transporte de grandes volumes por esse modal. E é uma das razões para que a maior parte das mercadorias produzidas no Rio Grande do Norte seja transportada por rodovias ou por meio de portos, não necessariamente do estado, diz o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas, Sebastião Segundo Dantas. Ele calcula que apenas 2% das mercadorias transportadas por caminhões cargueiros do estado hoje sejam escoadas por via aérea. Por mês, a frota transporta 1 milhão de toneladas ao todo. “Muitos dos produtos vão daqui para portos e aeroportos em Recife ou no Ceará para só depois seguirem para seus destinos. A estrutura no Rio Grande do Norte é pequena para as exportações”, diz Dantas, estimando que o volume exportado por aviões poderia chegar a 30%, 40% do total, dependendo da estrutura e dos custos oferecidos ao exportador.


Como o Aeroporto de São Gonçalo será privatizado, essas “ofertas” dependerão do investidor que receberá a concessão do empreendimento e que irá, além de terminar de construí-lo, administrá-lo por um período estimado em 28 anos. Já é possível imaginar, porém, a estrutura que estará à disposição dos importadores e exportadores.


De acordo com estudos preliminares de engenharia conduzidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o novo aeroporto deverá movimentar, entre importação e exportação, 7.901 toneladas em 2024 e, nesse período, terá um terminal de cargas com área de 3.450 metros quadrados. Para 2038, a projeção é ter uma área de 5.950 metros quadrados e uma movimentação de 13.522 toneladas. “Mas o novo aeroporto em si não resolve nada. Isoladamente, ele não representa uma solução”, diz a diretora da Sociedade Brasileira de Logística (SBL), Karla Motta. Ela observa que “o aeroporto é um ponto de entrada e saída de mercadorias. É o núcleo do projeto, mas no entorno dele é preciso que se implante uma série de equipamentos para viabilizar seu uso”. “É preciso haver equipes preparadas, vias de acesso, empresas de operação logística. Mas também não adianta ter tudo isso se não tiver fluxo de cargas e esse fluxo depende de uma integração desse aeroporto com outros aeroportos de origem e destino dessas cargas. Se não houver essa integração o aeroporto cairá em desuso”, alerta.


Entrevista: Karla Motta - Diretora da Sociedade Brasileira de Logística.


O transporte de cargas por via aérea deverá crescer no Rio Grande do Norte com o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante?

Sim, desde que exista prioritariamente a infraestrutura física, a equipe capacitada para as operações, o entorno dotado de operadores, transportadoras e prestadores de serviços, assim como vias de acesso ao Complexo Aeroportuário pelos demais meios de transportes. No entanto, a existência de recursos para o funcionamento do aeroporto não é suficiente para a existência de negócios. O aeroporto só “decolará” se existir uma política que direcione para ele os fluxos de entradas e saídas de cargas internacionais, possibilitando que ele se transforme em um HUB. Para que isto ocorra, é fundamental a articulação com outros terminais aéreos, operadores logísticos, grandes exportadores e importadores mundiais. É preciso que seja elaborado um plano diretor para esta logística, um projeto integrado para que as atividades ocorram a contento. E este projeto precisa de um “dono”, de uma equipe técnica capacitada, designada especialmente para alcançar este objetivo.


Como, na prática, o Aeroporto de São Gonçalo vai melhorar a vida do exportador?

O Complexo Aeroportuário de São Gonçalo do Amarante é projetado com foco no transporte aéreo de cargas, o que alterará completamente a relação entre os exportadores e as empresas de aviação. Haverá aviões dedicados exclusivamente ao transporte de mercadorias, elevando a disponibilidade de espaço e reduzindo os custos de transportes. É preciso captar investidores, como operadores logísticos de grande porte, que se instalem e prestem serviços no entorno. Medidas como a implantação de vias de acesso rodoviário, reativação das ferrovias do Estado e adaptação dos portos estaduais a esta nova realidade favorecerão os fluxos de cargas e os exportadores, que hoje sofrem muito com as restrições infraestruturais.

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