segunda-feira, 5 de julho de 2010

Com o fim da exclusividade nos cartões, lojistas saem ganhando

Taxas cobradas pelas credenciadoras devem cair de 20% a 30% nos próximos cinco anos

Por Elisa Campos

Este 1° de julho marca o início de uma nova era para o mercado de cartões no Brasil. Com o fim da exclusividade entre as bandeiras de cartões e as operadoras, a partir de hoje, as duas maiores credenciadoras do país, Cielo (ex-Visanet) e Redecard, ganham permissão para trabalhar com qualquer bandeira do mercado, incluindo Visa e Mastercard, desde que haja um acordo comercial. Com a medida, o comerciante não precisará mais manter duas ou mais máquinas em seu estabelecimento, uma para cada bandeira. E o melhor: a concorrência no segmento deve aumentar, favorecendo os lojistas.

O mercado de cartões movimenta no Brasil mais de R$ 500 bilhões por ano em cerca de seis bilhões de transações, de acordo com a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços). O setor está em franca expansão, tendo crescido 23% em faturamento no primeiro trimestre deste ano. Em 2009, mesmo com a economia combalida no início do ano, a segmento encerrou o período com alta de 20%. Neste cenário positivo, a exclusividade das bandeiras favorecia ainda mais os líderes de mercado.

Mas a situação começa a mudar. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estima em R$ 1,2 bilhão a economia para os comerciantes com a mudança. “Os lojistas, principalmente os micro e pequenos empresários, tinham poder de barganha próximo a zero para negociar com as credenciadoras. Não havia competitividade. E quanto menor era a empresa, pior era a situação. Com a quebra do ‘monopólio’, poderá haver redução nos custos para o comerciante”, afirma Fernanda Della Rosa, assistente econômica da Fecomercio.

Para trabalhar com cartões, os lojistas pagam duas taxas: o aluguel da máquina, de R$ 75 a R$ 140 mensais, e uma taxa administrativa, cobrada sobre o valor de cada venda, que varia de 3% a 5%. É este o custo que mais pesa para o comerciante e que deve começar a cair. A consultoria AT Kearney prevê que a maior concorrência possa derrubar as taxas de 20% a 30% nos próximos cinco anos. “ É o que temos observado nos países que passaram pela mesma mudança”, diz Ilnort Saldívar, diretor da AT Kearney.

Dois gigantes
A partir de hoje, por causa das mudanças, a Cielo passar a trabalhar também com a bandeira Mastercard e a Redecard com a Visa. Apesar da maior concorrência que vão enfrentar, as empresas, pelo menos no discurso, dizem não temer os impactos do fim da exclusividade. “Achamos que a mudança trará melhores serviços e deve estimular o crescimento do setor”, afirma Roberto Medeiros, presidente da Redecard. Apesar de não revelar a previsão de expansão para este ano, o executivo garante que as expectativas para 2010 são positivas. “No primeiro trimestre de 2010, conquistamos 200 mil clientes”. No período, a credenciadora lucrou R$ 352,6 milhões, uma alta de 11,2% em relação ao primeiro trimestre de 2009.

Com 1,7 milhão de clientes, a Cielo repete o tom otimista. “Isso nos abre a oportunidade de lançar novos produtos”, afirma Rômulo de Mello Dias, presidente da empresa. A empresa anunciou nesta quinta-feira uma parceria com o Bradesco para também aceitar os cartões da American Express a partir de amanhã, dia 2 de julho. Atualmente, a Amex conta com 400 mil estabelecimentos comerciais credenciados no país.

Apostando na fidelização do consumidor para não perder clientes, a Cielo dará vantagens para os comerciantes que usarem apenas suas máquinas para realizar as transações. “Além de encantar com a qualidade da nossa rede, iremos oferecer benefícios para os lojistas que concentrarem nossos produtos, como pacotes mais em conta”, diz Dias.

Os investimentos na preparação para esta nova etapa foram pesados para as duas companhias. Para aceitar também a bandeira Mastercard, a Cielo desembolsou R$ 140 milhões para adaptar sua estrutura, R$ 39 milhões no primeiro trimestre deste ano. Já a Redecard, embora não divulgue, fez um grande aporte para incorporar a bandeira Visa. De um milhão de máquinas em operação que possui, a empresa precisou trocar 230 mil para torná-las aptas às transações realizadas com cartões Visa. Juntas, Cielo e Redecard respondem por mais de 90% do mercado de credenciadoras no país.

Novos negócios
O fim da exclusividade também abre as portas para novas oportunidades de negócio. A empresa de processamento CSU sabe bem disso. Desde 2008, a companhia investiu R$ 30 milhões para aproveitar esse momento. A partir de agora, a empresa, que oferece serviços às emissoras de cartão de crédito, quer também passar a oferecer suporte para companhias que queiram se tornar credenciadoras de cartões, competindo com a Cielo e a Redecard.

“Até agora, com a exclusividade das bandeiras, era muito difícil alguma empresa entrar nesse mercado. Não valia a pena. Agora, com a mudança, passa ser vantajoso. O setor de credenciamento é muito rentável no Brasil. Em média, o lucro líquido do segmento é hoje de 43% do faturamento”, afirma Décio Burd, diretor de relações com investidores da CSU. Pelo visto, com o fim da exclusividade, este é apenas o primeiro capítulo de muitos que veremos no ramo de cartões nos próximos anos.

Fonte: Época Negócios

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