sábado, 2 de janeiro de 2010

Rio Grande do Norte é o primeiro a certificar melão no mundo.

Certificada em Comércio Justo, produção de melão no interior do Estado terá novos mercados

"Esta é a primeira vez que conseguimos um contrato com preço justo e fixado. É um momento muito importante para nós". A declaração de Ubiratan Carvalho, gerente de Negócios da Cooperativa de Desenvolvimento Agroindustrial Potiguar (Coodap), emocionou os presentes na solenidade que comemorou, no início de outubro, um fato marcante para produtores e comunidade de Pau Branco, uma área rural em Mossoró, Rio Grande do Norte.

Apoiada pelo Sebrae/RN, a Coodap conquistou a certificação em Comércio Justo, concedida pela Fairtrade Labelling Organizations (Flo-Cert) -; Certification for Development (Certificação para o Desenvolvimento, em português). É o primeiro caso no mundo de certificação de melão.

A certificação obtida pelos produtores de Pau Branco -; onde vivem três mil famílias, que dependem essencialmente da agricultura familiar -; vale até 2012 e abre grandes perspectivas de mercado. Como seu próprio nome diz, o Comércio Justo (do inglês Fair Trade) se baseia em relações mais justas do ponto de vista dos negócios.

Para se enquadrar nesta categoria, os produtores devem se organizar em associações, adotar um processo democrático de decisões, ter a igualdade entre homens e mulheres, respeitar as leis trabalhistas e o meio ambiente. Já as empresas que compram pelo sistema de Comércio Justo se comprometem a adquirir matérias-primas certificadas e a pagar um preço mínimo para possibilitar a produção. As empresas ainda devem pagar bônus para investimentos em projetos sociais e fechar contratos a longo prazo com os produtores.

O resultado imediato da certificação para a Coodap é a venda de 250 toneladas de melão para uma rede de supermercados da Inglaterra, por um preço entre 20% e 30% acima do praticado. Além disso, a cada quilo vendido, a cooperativa ganhará 10 centavos de dólar. Esse dinheiro deverá ser aplicado em projetos sociais nas áreas de saúde e educação na comunidade de Pau Branco.

Outra vantagem é que os produtores recebem um adiantamento de parte dos recursos. A quantia pode ser usada para a compra, pelos agricultores, de insumos e sementes, o que facilita o processo produtivo.

Ubiratan Carvalho conta que a entrada da Coodap no Comércio Justo representa uma mudança de comportamento para os produtores de sua comunidade. "Tínhamos uma visão mais primária do comércio antes de nos envolvermos com a busca pela certificação", revela. "Passamos a lidar de uma forma bem mais séria com a gestão do nosso negócio. O modelo Fair Trade nos fez perceber o papel de uma série de conceitos, como o uso sustentável dos recursos naturais", afirma Ubiratan.

Carvalho diz que a atuação do Sebrae nesse processo serviu para chamar a atenção do grupo sobre o papel das capacitações e como elas podem representar um diferencial de mercado. "O conhecimento nos ajudou muito a chegar à certificação, que nos abre as portas para o mundo", complementa Maria do Socorro Santos, presidente da Coodap.

Segundo a representante dos produtores de melão, a certificação trouxe um novo estágio para a vida dos agricultores, de suas famílias e da comunidade. "Temos um produto de qualidade e todos estão bastante confiantes de que vai dar certo".

Logística

José Ferreira de Melo Neto, superintendente do Sebrae/RN, vê a conquista da certificação Fair Trade pela Coodap como um fato de extrema importância no contexto econômico de seu Estado. "Colocamos um grupo de pequenos produtores para exportar em condições diferenciadas e factíveis, num momento em que o mundo inteiro se volta para o Comércio Justo", assinala.

João Hélio Cavalcanti, diretor-técnico do Sebrae/RN, lembra que a idéia da certificação do melão nasceu em 2005 durante visita à Fruit Logística, maior feira mundial de negócios da fruticultura em Berlim (Alemanha). A partir dali verificou-se a possibilidade de trabalho com comunidades rurais com o foco no Comércio Justo, experiência em crescimento na Europa.

Ele recorda que, naquele momento, os produtores enfrentavam uma situação difícil. "Eles estavam fragilizados e não tinham uma organização", conta o diretor. A crise econômica internacional que teve início em setembro de 2008 também abalou os produtores. Muitos compradores tiveram que suspender a aquisição das frutas e isso levou os negócios da cooperativa ao vermelho.

O processo de certificação do melão mossoroense começou em 2007 e incluiu uma visita de representantes da Coodap à Fruit Logística, na Alemanha, e à Fundação Fair Trade, na Inglaterra. Na ocasião, eles também tiveram a oportunidade de conhecer importadores e supermercados britânicos que trabalham com o Comércio Justo para saber as condições em que os produtos chegam e os cuidados necessários a serem adotados com a mercadoria.

Na Europa, existem estabelecimentos que reservam seções inteiras a produtos do Comércio Justo e inclusive colocam nas prateleiras, junto aos artigos, informações e fotos sobre as comunidades que desenvolvem as mercadorias. Isso serve para reforçar ainda mais perante o consumidor a importância de se adquirir esse tipo de produto e o valor social agregado a ele.

Investimentos

Um dos primeiros passos rumo à certificação foi a criação da Coodap, que nasceu a partir da Associação de Desenvolvimento Agroindustrial Potiguar, também com sede em Pau Branco.

O investimento do Sebrae/RN para a certificação do melão da Pau Branco foi de R$ 40 mil. Outros R$ 30 mil vieram do Sebrae Nacional e a Prefeitura de Mossoró aportou R$ 7 mil no projeto. Os recursos serviram para ações como capacitações, missões e consultorias.

O Sebrae/RN acredita que a experiência pioneira da Coodap vai inspirar mais produtores -; de melão e de outras frutas -; a buscarem capacitação e certificação. O Sebrae no estado já atua pela certificação de três comunidades que trabalham com coco seco, castanha-de-caju e mel. Segundo o diretor João Hélio, existe um nicho de mercado para estes alimentos na Europa.

O gerente de Agronegócios do Sebrae Nacional, Paulo Alvim, enxerga pioneirismo na certificação para a cooperativa de Mossoró . "Antes, ao se falar em comércio justo, pensava-se em produtos semi-acabados, como biscoitos e artesanato, e eles conquistaram a certificação com uma fruta in natura. Isso serve de exemplo e abre perspectivas para outras frutas do nosso bioma", observa.

Franco Marinho, gestor do Projeto de Fruticultura do Sebrae/RN, acredita que o ingresso da cooperativa no Comércio Justo trará mais segurança às suas atividades. "Antes, eles produziam com dedicação e tinham de vender o melão a um preço muito baixo, pois não conseguiam competir com as grandes empresas, que colocam suas sobras de exportação no mercado", recorda Marinho.

Na opinião de Franco, os horizontes mudaram completamente para os 20 produtores que integram a Cooperativa e para os habitantes de Pau Branco. "De agora em diante, eles poderão se planejar melhor a longo prazo, buscar novos compradores e estabelecer relações mais transparentes nos negócios. Eles só têm a crescer, para se tornar cada vez mais independentes", assinala o gestor.

Por: Marcelo Araújo
Agência Sebrae de Notícias - (61) 3348-7138 e 2107-9362
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Um comentário:

Unknown disse...

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