segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Comunidade se prepara para modernizar e aumentar produção de castanhas e para investir em novos segmentos, como o artesanato com palha de milho e a culinária.

O empreendedorismo pode mudar a realidade de toda uma comunidade. É o caso das 56 famílias que vivem no assentamento Novo Pingos, situado na zona rural do município de Assu, no Rio Grande do Norte. Com muita garra e o apoio de instituições como o Sebrae, os moradores do local investiram em horticultura, apicultura, culinária, artesanato e no processamento de castanhas.

Apoiada pelo Sebrae no Rio Grande do Norte, em seis meses a produção de castanhas de Novo Pingos deve obter a certificação de Comércio Justo, concedida pela Fairtrade Labelling Organizations (Flo-Cert) – Certification for Development (Certificação para o Desenvolvimento, em português). A certificação de Comércio Justo abre as portas ao mercado internacional. “Já verificamos que existe espaço para esse produto no exterior”, afirma João Hélio Cavalcanti, diretor -técnico do Sebrae no Estado.

Na Europa, esse tipo de negócio encontra-se em processo de franco crescimento. Para entrar na categoria, os produtores devem estar organizados em associações e adotar procedimentos em suas relações profissionais como o respeito às leis trabalhistas e a produção sustentável. Ao venderem seus produtos com o selo de Comércio Justo ainda ganham bônus que se revertem em investimentos sociais.

Novo Pingos surgiu em 2002. A atitude empreendedora está presente na comunidade desde seus primórdios. Durante a construção do assentamento, os próprios moradores optaram por erguer suas casas, no lugar de contratarem uma empresa para isso. Economizaram R$ 17 mil nas obras e destinaram a sobra à construção de uma escola para os filhos. “Novo Pingos é um grande exemplo de uma comunidade com forte espírito empreendedor e que o utiliza como instrumento de transformação social”, elogia João Hélio Cavalcanti.

O carro-chefe da economia de Novo Pingos está na produção de castanhas. O assentamento dispõe de 290 hectares dedicados ao cultivo do caju. Da plantação à embalagem, todo o processo de produção acontece na comunidade.

Por meio de uma parceria entre o Sebrae/RN e a Fundação Banco do Brasil (FBB), nos próximos meses Novo Pingos ganhará uma minifábrica de castanhas, que permitirá a substituição do processo manual de produção por uma estrutura mais profissional, com o uso de equipamentos modernos. A FBB arcará com o custo das máquinas e o Sebrae/RN oferecerá capacitação aos trabalhadores. “Hoje produzimos menos de mil quilos por mês. Com a fábrica, vamos triplicar essa quantidade”, calcula Francisco Paulo Bezerra, tesoureiro da Associação do Projeto de Assentamento Reforma Agrária Novo Pingos.

Kallyo Halyson, consultor do Sebrae/RN e que atua em Novo Pingos, diz que a fábrica vai impulsionar os negócios da comunidade. “Antes, eles não podiam fechar mais contratos porque não tinham condições de aumentar a produção. Não haverá mais esse impedimento”, diz Halyson.

O consultor lembra que investimentos como o de capacitação, realizados pelo Sebrae/RN e instituições parceiras, levaram a gestão empresarial no assentamento a patamares mais elevados. “Há alguns anos, eles vendiam o quilo da castanha por algo entre R$ 0,80 e R$ 0,90. Atualmente, a amêndoa processada custa R$ 15 o quilo”, informa Kallyo.

Hoje a castanha de Novo Pingos é vendida apenas em Assu. Com o futuro ritmo de produção, a comunidade já faz planos para levar sua mercadoria a Natal. Em vários tamanhos de embalagem, a castanha-de-caju de Novo Pingos é vendida nos sabores natural, caramelizado e torrado com sal.

Novo Pingos também comercializa com base na Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), tecnologia social apoiada pelo Sebrae que envolve, numa área delimitada, desde o cultivo de hortaliças à criação de aves.

Culinária e artesanato

Com o suporte do Sebrae/RN e parceiros, os moradores do assentamento começaram a diversificar seu leque de atuação, para a produção de doces e de artesanatos. Sobras do caju e da castanha e outras frutas servem de matéria-prima para iguarias como geléias e doces. Recentemente, o Sebrae promoveu em Novo Pingos oficinas de culinária à base da castanha, com a produção de pratos como rocamboles, almôndegas e pastéis.

O artesanato é o mais novo terreno em que Associação do Projeto de Assentamento Reforma Agrária Novo Pingos resolveu empreender. A partir de um estudo do Sebrae/RN, constatou-se que as mulheres da comunidade, que estavam sem ocupação, poderiam ser capacitadas para se dedicar à confecção de artesanato com a palha do milho. A palha do cereal é transformada em artigos como bolsas, baús, cestas e porta-vinho.

Antônia Marleide da Costa Silva, de 22 anos, é uma das oito jovens que tiveram sua vida transformada pela atividade artesanal. “Há até pouco tempo, eu vivia parada, sem ter o que fazer. Agora, a gente se junta para trabalhar”, conta cheia de entusiasmo a líder das artesãs. “A gente se diverte fazendo esses artesanatos e ainda ganha por isso”, afirma. Marleide, que passou sua vida inteira em Assu, viajou há alguns dias a Natal, para mostrar o trabalho dela e das colegas na Festa do Boi, um grande evento potiguar do setor de agronegócios.

Francisco Paulo Bezerra, que além de tesoureiro da Associação se dedica à tarefa empreendedora de desenvolver inventos, como uma perfuradora para extrair mais água do solo, se orgulha ao falar das conquistas atingidas por Novo Pingos nos últimos anos. “No começo a gente não tinha nada. Sobrevivíamos catando lenha para vender. Hoje o pessoal tem geladeira, máquina de lavar, fogão e até microondas em casa. Ninguém aqui derruba uma árvore. Todo mundo tem consciência ecológica. Tudo que a gente desenvolveu foi com o apoio do Sebrae, que viu o que queríamos e nos ajudou a transformar o sonho em realidade”, afirma Francisco, sem esconder a emoção.

Por: Marcelo Araújo (Agência Sebrae de Notícias - www.agenciasebrae.com.br)

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