sábado, 6 de março de 2010

Fatores de risco não são novos, mas seguem travando negócios

Por: Josué Leonel

A indefinição continua dando o tom nos mercados. O anúncio das medidas fiscais na Grécia e de indicadores melhores que o esperado nos EUA não foi suficiente para convencer os investidores a irem com tudo às compras de ativos de risco nesta quarta-feira. E, nesta quinta-feira, os sinais são de que o mercado deve continuar patinando.

Em que pese os analistas e operadores citarem alguns fatores específicos como razões para o momento atual de cautela, estes motivos não são, a rigor, novos. O temor de desaceleração do crédito na China, por exemplo, é uma consequência natural e esperada das várias medidas já adotadas pelo governo e pelo banco central do país para conter o excesso de liquidez. O inesperado seria que não ocorresse uma desaceleração.

Teve operador que chegou a citar o conteúdo do Livro Bege nesta quarta-feira como fator de retração. No fundo, porém, os comentários feitos pelo Fed no documento não foram muito além daquilo que todos já conhecem: que as condições econômicas americanas continuaram a melhorar ligeiramente no início de 2010, mas as nevascas que atingiram o país afetaram a atividade.

A falta de sinalizações mais concretas por parte dos governos europeus em apoio à Grécia após o país anunciar as medidas de austeridade fiscal também ajudou a tirar o gás dos investidores. Também neste caso, contudo, não há razões para maiores surpresas. Até as pedras das ruínas de Atenas sabem que o mais difícil começa agora, com a implementação das medidas. Não seria muito lógico a França e a Alemanha jogarem a esperada boia de salvação antes de os gregos darem os primeiros passos para tirar as promessas do papel.

Há muitos outros fatores de risco rondando o mercado, como o de a capitalização da Petrobras trazer diluição muito expressiva na participação dos acionistas na empresa. Também neste caso, porém, trata-se de uma incerteza antiga, que só ganha evidência agora porque o momento de definição começou a se aproximar.

Embora este e outros fatores de risco não sejam novos, eles podem continuar travando os negócios ainda por algum tempo. A capitalização da Petrobras só deve ser votada no Senado nos próximos meses e a operação financeira em si pode ficar para o segundo semestre. A Grécia e demais europeus não devem sair da berlinda tão cedo. Da mesma forma, as dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento nos EUA e Europa e sobre o impacto das medidas de restrição na China não devem ser esclarecidas no curto prazo.

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