sábado, 22 de maio de 2010

Deficientes visuais discutem acesso ao mercado de trabalho

De acordo com Defendi, em São Paulo estima-se que há 112 mil pessoas com todos os tipos de deficiências empregadas e algo em torno de 5% sendo deficientes visuais, o que corresponde a 12 mil pessoas

Após o sistema de cotas estabelecido por lei federal, em 1991 o mercado de trabalho para os deficientes visuais no Brasil melhorou, mas ainda não é o ideal, afirmou nesta sexta-feira, 21, o coordenador do Programa de Empregabilidade da Fundação Dorina Nowill para Cegos, Edson Luiz Defendi. Segundo ele, apenas no início do ano 2000 a fiscalização começou a ser feita com mais rigor pelas superintendências regionais do Trabalho.

De acordo com Defendi, em São Paulo estima-se que há 112 mil pessoas com todos os tipos de deficiências empregadas e algo em torno de 5% sendo deficientes visuais, o que corresponde a 12 mil pessoas. “Essa lei ajudou muito na inclusão profissional de pessoas com qualquer tipo de deficiência e, de certa maneira, reflete a necessidade de colocar em prática questões tão importantes em relação a competência da pessoa com deficiência em seus postos de trabalho”.

Entretanto, mesmo com o sistema de cotas e a fiscalização, ainda há muita dificuldade para o deficiente visual conseguir um emprego, já que as empresas não têm a clareza das habilidades dessas pessoas e veem como custos o investimento em ferramentas necessárias para auxiliar o deficiente visual.

“O que estamos fazendo é um trabalho de quebrar a resistência e as atitudes de preconceito em relação a essa exclusão. A tecnologia é essencial para o deficiente visual no mercado de trabalho e há muitas empresas que buscam pessoas com deficiência visual porque precisam cumprir o sistema de cotas ou porque têm uma cultura de diversidade e acreditam que a pessoa com deficiência pode ter direito a ser produtiva e a trabalhar”, comenta Defendi.

O presidente da Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), Markiano Charan, disse que a maioria das empresas ainda não se conscientizou da importância do trabalho para essas pessoas e muitas procuram fugir do cumprimento da lei. “As empresas não entenderam que não estão fazendo um favor para o deficiente. É um direito dessa pessoa trabalhar. As empresas dizem que não há pessoas capacitadas e isso é uma armadilha na qual não podemos cair”.

Charan reforçou que, além da Adeva outras entidades dão apoio ao deficiente visual, com cursos de qualificação e treinamentos em diversas áreas. “O funcionário deficiente visual pode ser tão eficiente quanto aquele que não tem deficiência. As pessoas que fazem os cursos oferecidos pelas entidades saem muito preparadas para o mercado de trabalho. Ainda há muito preconceito da sociedade com relação a essas pessoas, e para diminuir isso precisamos levar informação à população”.

A analista de desenvolvimento humano, Priscila Branca Neves, que trabalha na coordenação do programa de empregabilidade do Serasa Experian, e é cega, ressaltou que a adaptação necessária para o deficiente visual trabalhar é um software leitor de tela. “É um programa que lê tudo o que está na tela do computador e fala, porque precisamos ouvir o que está lá. Tudo o que fazemos ele lê e nós ouvimos por um fone de ouvido. Muitas empresas ainda não têm clareza com relação a isso. Se eu tenho um programa desse no computador eu consigo fazer tudo o que uma pessoa sem deficiência faz”.

Priscila disse que as empresas ainda contratam pessoas com deficiências leves apenas para cumprir com a lei, porque julgam que essas pessoas produzirão mais e não darão tanto trabalho para aprender suas funções, ou que dão muito gasto, porque é preciso do investimento nesse software que custa R$ 2.500,00. “Mas não entendem que se houver as ferramentas necessárias ela se desenvolverá tanto quanto qualquer outra pessoa.”

Fonte: Caderno Negócios Jornal O Povo

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