segunda-feira, 17 de maio de 2010

A crise europeia deve continuar afetando, sobretudo, as empresas que dependem do mercado externo

A crise europeia deve continuar afetando, sobretudo, as empresas que dependem do mercado externo

Notícias vindas da Europa agravaram ainda mais a percepção de risco nas bolsas do mundo inteiro, na última sexta-feira. A primeira deflação na Espanha desde 1986 e a ameaça de a França deixar a zona do euro levaram os investidores a vender ativos de risco. No fim da tarde, a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, desmentiu os rumores, classificando a notícia como "completamente infundada", mas isso não impediu o euro de cair para seu menor nível desde outubro de 2008, abaixo de US$ 1,24. Em relação ao real, a moeda europeia encerrou a semana com queda acumulada de 4,60%, na última colocação do ranking dos principais ativos.

Para o gestor de recursos da InvestCapital, Giovanni Di Pasquale, os investidores passaram a questionar a eficiência do pacote de quase US$ 1 trilhão que a União Europeia (UE) colocou à disposição dos países da zona do euro. "No curto prazo, a tendência do euro é de baixa. Contudo, a médio e longo prazos, o cenário global deve mudar com a valorização do yuan", avalia.

Di Pasquale acredita que a alta da moeda chinesa consolidará a China como locomotiva econômica mundial, o que deve impulsionar também a economia europeia.

O Índice Bovespa (Ibovespa), principal índice de referência do mercado de ações brasileiro, encerrou a sexta-feira em baixa de 2,12%, aos 63.412 pontos. Ainda assim, ao longo da semana, o investimento em Bolsa subiu 0,86%, na liderança do ranking. O gestor da InvestCapital atribui o bom desempenho do mercado de ações à divulgação de balanços positivos por parte das companhias brasileiras. "A crise europeia deve continuar afetando, sobretudo, as empresas que dependem do mercado externo. Os setores voltados ao mercado interno devem continuar apresentando resultados favoráveis".

Refúgio no ouro

A injeção de liquidez no mercado foi reforçada, esta semana, pelo plano de ajuda da UE, o que levou os investidores a buscarem refúgio no ouro contra a inflação. Esta é a explicação de Di Pasquale para a valorização recente do ouro no mercado internacional. No Brasil, no entanto, a desvalorização do dólar frente o real fez com que o ouro encerrasse a semana com baixa de 1,35%, na segunda colocação do ranking.

No mercado de câmbio, os boatos colocando em xeque a sobrevivência do euro impulsionaram o dólar e pressionaram as moedas dos países emergentes, como o Brasil. O dólar comercial fechou a sexta-feira cotado a R$ 1,805, alta de 1,58%. Na semana, a moda norte-americana caiu 2,38%, na terceira colocação do ranking. "A entrada de dólares no Brasil via investimento estrangeiro direto ainda é muito grande e acaba compensando a saída dos recursos externos da bolsa. O Brasil ainda é a bola da vez", diz, Di Pasquale, otimista.

Corretoras

Embora apostem que a BM&FBovespa não vai conseguir sustentar a recuperação esboçada na última semana (a Bolsa subiu 0,86% no período), já que as incertezas sobre a situação econômica da Europa permanecem, as corretoras quase não fizeram mudanças nas suas recomendações. Segundo os economistas, em momentos de turbulência é melhor esperar que o cenário se desanuvie um pouco.

A forte oscilação nos mercados acionários ainda é fruto da desconfiança em relação aos rumos da crise na Europa, dizem os especialistas da corretora SLW. Não podemos descartar que nesta nova semana o movimento possa se mostrar similar, já que a aversão ao risco continua se ampliando.

Para a corretora, as ações da Marfrig, que subiram 5,14% na semana passada, são destaque. Ainda segundo ela, essa é uma das empresas mais diversificadas do setor, o que lhe proporciona uma operação menos arriscada. A expectativa de resultado é boa para o mercado interno e de gradativa melhora para o mercado externo, que ainda está sofrendo.

APLICAÇÕES
Opção: fundos imobiliários

São Paulo: Não tem dinheiro para comprar um apartamento? Já existem opções no mercado que permitem investir no setor imobiliário sem que se precise, necessariamente, adquirir o imóvel. Com menos de R$ 2.000 é possível ficar sócio de um shopping center ou de um prédio da Petrobras.

Aplicações desse tipo são feitas por meio da compra de cotas de fundos de investimentos imobiliários, que lucram financiando a construção de empreendimentos ou com a cobrança de aluguéis. Para o investidor, o fundo paga uma remuneração mensal. Ele também pode ganhar com a valorização das cotas, que são negociadas na Bovespa ou em mercado de balcão organizado. Além de estarem mais acessíveis, os fundos apresentam outras vantagens em relação aos imóveis. Um exemplo: a compra de cotas não inclui gastos com cartório, corretagem ou ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis)

Para Sérgio Belleza, especialista em fundos imobiliários, as taxas de administração dos fundos também são atrativo, em torno de 0,5% ao ano, bem abaixo da média das outras aplicações do mercado. Segundo ele, há também incentivos tributários. "A rentabilidade mensal é isenta de Imposto de Renda, caso a pessoa física possua menos de 10% das cotas e o fundo tenha mais de 50 investidores´´, diz Belleza. Contudo, é preciso ler atentamente o prospecto dos fundos e o termo de securitização antes de comprar as cotas, para saber quais são os compromissos do fundo e seus riscos. O lucro com a venda das cotas, no entanto, é tributado em 20%, explica Romeu Pasquantonio, especialista da Brazillian Finance & Real Estate.

Levantamento feito pelo site www.fundoimobiliario. com.br com 17 fundos negociados há mais de um ano na Bovespa mostra que a rentabilidade total (rendimento mensal mais valorização das cotas) acumulada de abril de 2009 a abril de 2010 varia muito.

NESTA SEMANA
Analistas preveem mais volatilidade e incerteza

Indicadores de inflação no Brasil, que vêm mostrando alta, serão divulgados, gerando novos cenários

São Paulo A volatilidade e a incerteza dos mercados devem predominar novamente nesta semana, avisam os analistas. O que pode acalmar um pouco os ânimos nos próximos dias será a apresentação de indicadores de atividade e inflação nos EUA, na quarta-feira.

Para o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto, isso tende a atenuar os temores vindos da Europa. "Os EUA apresentam um cenário de recuperação da economia com baixa inflação, e isso é muito positivo´´, ressalta.

A ata da reunião do FED (banco central dos EUA) e o índice de preços ao consumidor norte-americano serão divulgados na quarta-feira. A expectativa é de poucas surpresas e a de que os números de inflação sigam estabilizados. De qualquer maneira, as Bolsas de Valores foram fortemente influenciadas pela situação na Europa na última semana e encerraram o período acumulando perdas por conta da desconfiança com a capacidade de recuperação econômica da zona do euro.

"O ponto é saber até quando os investidores irão dar mais peso ao "risco Europa´ do que ao cenário mais promissor dos EUA´´, avalia Neto.

De acordo com o economista Eduardo Otero, da Um Investimentos, a situação de instabilidade dos mercados permanecerá nesta semana, reforçada com a divulgação de uma curva deflacionária na Espanha, "algo que não acontecia havia mais de 20 anos´´, observa.

Na terça-feira a zona do euro e a Inglaterra divulgam os índices de preços ao consumidor referentes ao mês de abril. No mesmo dia será possível avaliar o índice Zew de confiança de investidores na Europa.

Na sexta-feira, saem os índices de atividade industrial e de serviços da zona do euro. Todos esses indicadores devem manter a percepção dos analistas de um movimento de recuperação ainda moderado da economia do bloco. Na quinta-feira será a vez de a Inglaterra apresentar o resultado das vendas no varejo durante o mês de abril.

Outra informação que deve ser observada pelos investidores nesta semana é o resultado do PIB do primeiro trimestre no Japão. Os analistas avaliam que o resultado consolidará o cenário de recuperação de atividade no país, mas observam que a economia japonesa continua mostrando traços deflacionários, o que gera um pouco de preocupação nos mercados.

Brasil

No País, serão divulgados o IPCA-15, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na quarta-feira. No dia seguinte, a FGV (Fundação Getulio Vargas) apresenta a segunda prévia do IGP-M de maio. Ambos os indicadores estão acumulando altas preocupantes, principalmente quando se observa que a projeção base do Banco Central para o IPCA no segundo trimestre está na casa de 1,13%.

Para a equipe econômica do Banco Santander, a inflação no Brasil deve frustrar a expectativa do mercado de desaceleração significativa entre maio e junho, o que anunciaria uma nova surpresa inflacionária no segundo trimestre.

Fonte: Caderno Negócios Diário do Nordeste

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